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O MAU EXEMPLO

ME TORNEI UMA FONTE DE SEVERIDADE NO MUNDO

Aconteceu que um xeque árabe tinha uma mula de valor, mais ágil que as águias e de uma beleza incomparável.

Outro xeque de uma região afastada ouviu falar dela e a cobiçou. Mandou ao seu proprietário mil peças de ouro para comprá-la, mas este se negou a vendê-la. Vendo que não poderia adquiri-la pelas vias legais, o xeque invejoso quis consegui-la por meio de um ardil e do roubo. Se dirigiu à cidade do proprietário fantasiado de pobre ermitão; como vinha de longe, ninguém conhecia sua verdadeira identidade. Ele viu a mula amarrada no estábulo mas não pode roubá-la em pleno dia nem de noite. Percebeu, entretanto, que seu proprietário a montava todo dia sozinho durante duas horas. O invejoso se colocou no caminho dele e se estendeu com o rosto no chão como um homem doente ou sedento, cansado e desmaiado. Ao vê-lo o cavaleiro teve pena e desceu da cavalgadura para examinar o estado do homem. O invejoso pulou então sobre a mula e fugiu galopando. O proprietário entendeu que tinha sido enganado, que nunca poderia recuperar sua mula; e gritou: “Cavaleiro, detém-te e me ouve!” O ladrão parou para ouvir o que o outro queria lhe dizer e ouviu as seguintes palavras: “Cavaleiro, roubaste esta mula enganando; por causa disso, no futuro, conterei meus sentimentos de piedade; fechaste para as criaturas as portas da misericórdia e da ajuda mútua.” Depois o antigo proprietário voltou para a sua cidade e se trancou na sua tenda, resignado a perder a mula.

Mas suas palavras começaram a corroer o coração do ladrão, torturando-o com a idéia dele ter sido uma fonte de rigor. E pensou: “Se alguma vez um homem estiver no deserto e ver uma pessoa estendida no chão, não terá nenhuma piedade dela e não vai parar para saber do seu estado com medo de estar lidando com um simulador da minha espécie e aquele que está no chão vai sofrer por minha causa. O que me trouxe este roubo? Eu lamento amargamente o que fiz e prometo, em nome de D’us misericordioso, quebrar imediatamente o satã, me arrepender, devolver a mula ao proprietário e pedir-lhe perdão”. Deu meia volta, saiu correndo até o proprietário e lhe disse: “meu mestre, meu senhor, fui eu que roubei tua mula, enganando-te, e me tornei uma fonte de severidade no mundo. Agora me arrependo do meu ato e trago de volta a mula. Peço perdão e que teu coração misericordioso tenha piedade de mim.”

O proprietário da mula, surpreso com a reviravolta deste homem, sua coragem, sua pureza e sua sensibilidade moral, levantou-se, beijou-o e lhe disse: “Meu filho! Tu es a luz dos meus olhos! Vejo que tu es um homem íntegro; te dou a mula com amor, bem como a mão da minha filha, bonita e inteligente. Resumindo, sou teu sogro e tu meu genro!”

Esta história beduína pode ser entendida com todas suas implicações, extraindo as lições que se impõem: nos desviaremos do mal, evitaremos as disputas, aceitaremos o jugo do Serviço divino e seguiremos as leis da Torá.

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