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Estudos

Avoda Zara

Shulhan Aruh

Humash com Rashi

Dvora

Guemará - Primeira serpente

Mulher Infiel - SOTA

Os Profetas - Amos

Os Profetas - Eliahu Hanavi

Daniel 

Templo de Jerusalém

Templo de Jerusalém II



 

Avoda Zara


 

Não dar atenção aos ídolos, à idolatria, aos cultos, religiões ou filosofias que contradizem a Torá

 

A proibição de “voltar-se para os ídolos” inclui o seguinte:

§         É proibido olhar para os ídolos. Se o olhar parou inadvertidamente sobre uma estátua que é um objeto de culto, não se deve continuar olhando para ela.

§         Não se deveria se marcar um encontro dizendo: “vamos nos encontrar na estátua idólatra tal ou qual.”

§         Não temos direito de deter nossos pensamentos num assunto incluído na categoria de “ídolos”.

Isso significa, na prática, que a Torá nos proíbe ler livros, escutar de conferencias ou ter qualquer outra relação com os cultos, as religiões ou as filosofias estranhas à Torá.

 

NÃO SE VOLTEM PARA OS ÍDOLOS!

(Vaicrá 19.4)

Como todas as Mitsvot, esta também foi dada para nosso bem. Podemos tirar dela evidentes vantagens.

1. Nosso espírito é tão vulnerável quanto limitados nossos conhecimentos. Deixar-se cativar intelectualmente por um assunto, afeta nossa personalidade, embora possamos não estar conscientes disso. Se alguém faz leituras ou toma conhecimento de idéias que estão em contradição com a Torá, vai receber delas alguma influência. Isso é verdade mesmo quando ele lê, por exemplo, um livro de filosofia, e tem a determinação de ficar intelectualmente alerta. A familiaridade com idéias que não pertencem à Torá afeta sua escala de valores e, em certa medida, influencia seus pensamentos.

Além do mais, mesmo que alguém tenha clara consciência que essa escola de pensamento é fundamentalmente falsa, diante de um argumento que ele não consegue refutar vai nascer em seu espírito uma ponta de dúvida. E ele vai dar crédito a essa tese na maioria das vezes, simplesmente porque lhe faltam os conhecimentos necessários para avaliar a veracidade das suas pretensões e para penetrar na atualidade dos seus fundamentos falaciosos.

Foi, portanto, para nosso próprio bem, que Hashem nos proibiu absorver-nos em assuntos que contradizem a verdade da Torá. Ao observar este mandamento, nossos pensamentos permanecem puros e não serão afetados pelas religiões e filosofias do nosso entorno que, concebidas pelo homem, só podem nos levar à perdição.

É preciso entender bem a razão desta mitsvá, que não é o temor de igualdade ou superioridade de qualquer outro sistema frente à Torá, chas veshalom. A proibição de investigar religiões e filosofias estranhas se apoia na avaliação realista dos limites humanos como o explicamos acima.

Ao impregnar-nos com teorias e idéias contrárias à Torá, estamos obstruindo nosso espírito e nossos pensamentos. Não podemos nos elevar para Hashem se nosso espírito não está perfeitamente claro. Para isso, é preciso eliminar qualquer obstáculo que se oponha à verdade e que seja de tuma.

2 - Um judeu deve ter consciência do objetivo para o qual nasceu e consagrar a ele o máximo das suas forças e do seu tempo.

O homem foi criado com uma só finalidade: servir seu Criador. Devemos conseguir esse objetivo num tempo bastante breve já que nossa permanência neste mundo é limitada. Como podemos então, consagrar parte desse tempo precioso à indagação de assuntos que não se relacionam com o objetivo verdadeiro e são apenas um passatempo sem valor? A Torá nos adverte para não perdermos nosso tempo investigando religiões e sistemas que o entendimento limitado do homem concebeu, e sim consagrar o máximo possível de tempo ao estudo da Divina Torá e ao cumprimento das Mitsvot.

 

As proibições de Menachesh e de Me’onen, uma espécie de adivinhação

1.      Sheló lenachesh/ não praticar a adivinhação

2.      Sheló le’onen/ não declarar certos momentos como sendo de bom ou mau agouro

 

A Torá nos ordena não ter nenhuma parte nas práticas ocultas como a da adivinhação e da fixação de tempos.

Vamos explicar o que isso significa:

1. Nichush / Adivinhação: muitos são aqueles que tiram de certos fatos presságios de felicidade ou de infortúnio. Por exemplo, se cai um pedaço de pão da sua boca, ou se encontram tal animal, ou se ouvem o grasnar de um corvo, pensam que esse é o anúncio de acontecimentos futuros. Alguns ainda dizem: “Já que desde o início do dia me aconteceu isso e aquilo, vejo um sinal que nada não vou ganhar hoje.” Se alguém age fundamentando-se nesse tipo de presságio, está transgredindo a proibição de “nichush”.

2. Me’onen/ fixar tempos: alguns pensam que existem dias ou momentos favoráveis ou prejudiciais a um determinado empreendimento. E se abstêm de agir ou querem absolutamente começar o que devem fazer com respeito a esses dias ou momentos propícios. Isso cai na proibição de me’onen, termo cuja raiz é oná/momento e que consiste em determinar momentos favoráveis ou não a esse empreendimento.


Shulhan Aruh

B’SD

 

Capítulo III do Shulhan Aruh

(Código de leis de procedimentos)

Regras relativas à vestimenta e à postura

 

   Não devemos nós comportar de acordo com as regras dos idólatras e não devemos nos parecer a eles nem pela vestimenta nem pelo corte de cabelo nem por nada semelhante, por que foi dito: “Não ande atrás das regras da nação...”(Lev. XX, 23), e foi dito: “e de acordo com suas regras, não andem” (Lev. XVIII, 3), e ainda “E tome muito cuidado para não ser levado por eles” (Deut. XII, 30). Não se usará uma roupa que eles reservam como sinal de grandeza e que é vestimenta de príncipe. Por exemplo, dizemos no Talmud (Sanh. 74b, Bab. Quam 59b) que é proibido a um israelita se tornar semelhante a eles, nem mesmo pelo cordão dos sapatos: se eles costumem amarrá-lo de uma maneira e os israelitas de outra ou se o seu costume é usar laços vermelhos e os israelitas pretos - já que a cor preta indica modéstia, humildade e pudor - está proibido ao israelita mudar. Disto, cada um deve deduzir, considerando o lugar e a época, que não deve ser feita para um israelita uma vestimenta para o aparato e a licença e que suas vestimentas serão feitas de modo a indicar humildade e pudor. Dizemos então no Sifré “Não diga: já que eles saem vestidos de púrpura, quero também sair vestido de púrpura; porque eles saem com um capacete (quer dizer com armas), quero também sair com capacete, porque estas coisas são objeto de vaidade e de orgulho e esta não é a parte de Jacó, que é, sim, o ser pudico e humilde e não se virar para o orgulho.” Do mesmo modo, tudo que eles erigiram como costume ou regra, para a qual deve se temer encontrar um vestígio de idolatria, não deve ser feita por um israelita. Deste modo, este não se cortará os cabelos nem os deixará crescer como eles, e deverá distinguir-se deles pela vestimenta, pela linguagem e pelo comportamento habitual, como já é diferente pela sua sabedoria e pelas suas opiniões. É o que diz a Escritura: “Eu separei-vos dos povos.”(Lev. XX, 26).



Humash com Rashi

 

DEVARIM

 

Humash

Cap. I, vers. 12

Mas como suportarei sozinho a vossa carga, fardo, e as discussões que me apresentais?

 

Rashi

MAS COMO SUPORTAREI SOZINHO. Mesmo se eu dissesse: Eu o faria para receber uma recompensa, não poderia. É o que vós disse: não é por mim que vós falo, mas pela ordem do Santo, Bendito seja Ele.

A VOSSA CARGA. Isso nós ensina que os Israelitas cansavam os outros. Se um deles visse o adversário ganhando o processo, dizia: “tenho testemunhas a citar, tenho provas para trazer, acrescentarei mais juizes.”

O VOSSO FARDO. Isso nos ensina que eram espíritos fortes. Moshé saía mais cedo do que de costume da sua tenda, eles diziam: “O que obriga o filho de Amram a sair? Será que não está à vontade na casa dele?” Se ele saía tarde, diziam: “O que fez o filho de Amram para não sair? O que pensam disso? Ele está sentado elaborando contra vocês planos negativos, fazendo projetos contra vocês.”

AS VOSSAS DISCUSSÕES. Isso nós ensina que ele gostavam de discutir.

 

 

61 - VAETCHANAN

 

Chumash

Cap. III, vers. 23

Pleiteei com D’us uma graça naquele tempo, dizendo:

 

Rashi

E PLEITEEI UMA GRAÇA. A expressão ‘chanun’ expressa sempre a noção de dom gratuito. Embora os justos possam invocar suas boas obras, eles só pedem a D’us um dom gratuito – D’us tendo dito: (EX. XXXIII, 19) “Eu faço graça a quem Eu quero fazer graça”. Moshé uso a expressão: ‘Vaetchanan’, PEDI UMA GRAÇA.

Outra explicação: é uma das dez expressões que designam a oração. (cf. Sifré).

NAQUELE TEMPO. Depois de ter conquistado o país de Sihon e de Og, imaginei que talvez a promessa de D’us proibindo minha entrada em Erets Israel tivesse sido anulado.

DIZENDO (ou: PARA QUE DIGA). É um dos três lugares em que Moshé diz diante de D’us “Eu não Te deixarei antes de que Tu me tenhas feito saber se Tu atenderás ou não o meu pedido.”

 

Chumash

Cap. IV, vers. 6

Observem-nos e ponham-nos em prática; nisto estará a sua sabedoria e a sua inteligência aos olhos das nações. Quando elas ouvirem falar de todas essas leis, exclamarão: “Só pode ser sábio e inteligente, esse grando povo!”

 

Rashi

OBSERVEM-NOS. Isso se refere ao estudo.

PONHAM-NOS EM PRÁTICA. No sentido literal.

ISSO SERÁ SUA SABEDORIA E SUA INTELIGÊNCIA. Por esse meio, serão considerados sábios e inteligentes aos olhos dos outros povos.

 

 

62 - EQUEV

 

Chumash

Cap. XI, vers. 12

Um país cujo Senhor teu D’us toma cuidado: sobre ele, os olhos do Senhor teu D’us estão fixados constantemente, do início ao fim do ano

 

Rashi

CUJO SENHOR, TEU D’US, TOMA CUIDADO. Será que ele não se ocupa de todos os países, como está dito (JÓ, XXXVII, 26) “para fazer chover sobre uma terra mesmo sem habitantes”? Mas se se pode expressar assim, Ele só se preocupa com ela e por causa dessa preocupação que Ele tem com ela, ele se preocupa de todas as outras com ela.

SOBRE ELE OS OLHOS DO SENHOR, TEU D’US ESTÃO FIXOS CONSTANTEMENTE. Para atender às suas necessidades, para renovar nela os Seus decretos, às vezes para o bem e outras para o mal. Tudo isso está explicado no Tratado de Rosh Hashaná.

DO PRINCÍPIO DO ANO. Desde o princípio do ano se decide o que vai ocorrer até o seu fim.

 

Chumash

Cap. XI, vers. 18

Ponham essas palavras que eu lhes digo em seu coração e em sua alma, atem-nas como sinal na sua mão e que sejam por filactérios entre seus olhos.

Rashi

PONHAM ESSAS PALAVRAS. Mesmo depois de exilados, distinguam-se pela prática das Mitsvot, coloquem os tefilin, façam mezuzot, para que não sejam novas quando voltarem e assim se diz (JER. XXXI, 20): “Faça para você sinais distintivos”.

 

Chumash

Cap. XI, vers. 19

Vocês as ensinarão a seus filhos, para falar delas sentados nas suas casas, andando pelo caminho, ao deitar e ao levantar.

Rashi

PARA FALAR. A partir do momento que a criança começa a falar, você deve lhe ensinar: “Moshé nos prescreveu uma lei”(XXXIII, 4), que seja logo que ela comece a falar. Disso se deduz que quando a criança começa a flar, seu pai deve conversar com ela na língua sagrada e ensinar-lhe a torá. Se ele não age assim, é como se ele a enterrara, como está dito: “e as ensinaréis a vossos filhos para que falem delas ... para que seus dias e os dias dos seus filhos se multipliquem ...”

 

 

63 - REÉ

 

Chumash

Cap. XI

Vers. 26. Olha, hoje Eu coloco diante de vocês bênção e maldição:

Vers. 27. a benção se ouvirem os mandamentos do Senhor seu D’us, que hoje lhes prescrevo;

Vers. 28. e a maldição se não escutarem os mandamentos do Senhor seu D’us, se se afastarem do caminho que hoje lhes indico, seguindo deuses estrangeiros que vocês não conheciam.

 

Rashi

26. OLHA, EU ... BÊNÇÃO E MALDIÇÃO. Aquelas que serão ditas sobre o Monte Garizim e sobre o Monte Ebal.

27. A BÊNÇÃO. À vista que vocês ouçam.

28. DO CAMINHO QUE HOJE LHES INDICO. Disso você deduz que todos os idólatras se afastam totalmente, por assim dizer, do caminho que foi ordenado a Israel seguir. De onde podemos dizer que aquele que adere à idolatria, é como se renegasse toda a Torá em seu conjunto.

 

Chumash

Cap. XIII

Vers 1. Tudo o que ordenovocê guardará e colocará em prática, não acrescentarás nada, não eliminarás nada.

 

Rashi

... NADA ACRESCENTARÁS. Por exemplo, fazendo cinco divisões nos Tefilin, cinco espécies no lulav, quatro bênçãos na bênção sacerdotal.

 

Chumash

Cap. XV

Vers. 7. Se há um pobre entre vocês, algum dos teus irmãos, de uma das suas cidades, no país que o Senhor teu D’us te da, não endurecerás teu coração e não fecharás a tua mão para teu irmão em necessidade,

Vers. 8. Mas lhe abrirás amplamente a tua mão e lhe emprestarás, lhe emprestarás de acordo com suas necessidades, de acordo com o que lhe falta.

Vers. 9. Guarda-te de ter em teu coração um mau pensamento e de dizer: “o sétimo ano, o ano da remissão, está próximo”, poderias olhar com um olha ruim teu irmão indigente e nada lhe dar; ele evocará então contra ti o Senhor e haverá em ti pecado.

Vers. 10. E dar-lhe-ás, dar-lhe-ás mais, não será contra a vontade que lhe darás, porque então o Senhor teu D’us te abençoará em todas as tuas ações em todos os empreendimentos das tuas mãos.

Vers. 11. Porque o indigente não desaparecerá nunca deste país, é por isso que prescrevo e digo: abrirás amplamente tua mão ao teu irmão, ao teu pobre, ao teu indigente no teu país.

 

Rashi

7. SE HÁ UM POBRE ENTRE VOCÊS. Primeiro aquele que é mais pobre.

UM DOS TEUS IRMÃOS. O irmão consanguíneo passa antes do teu irmão uterino.

TUAS CIDADES. Os pobres da tua cidade passam antes dos pobres de uma outra cidade.

NÃO ENDURECERÁS. Alguns hesitam penosamente: darei, não darei? Por isso se aplica a expressão: “NÃO ENDURECERÁS teu coração”. Alguns estendem a mão para dar e depois a fecham; por isso está escrito “NÃO FECHARÁS a mão”.

AO TEU IRMÃO NECESSITADO. Se você não der a ele, você mesmo vai se tornar irmão dos necessitados em pobreza.

 

8. ABRIRÁS AMPLAMENTE. Mesmo que seja várias vezes. – Qui se utiliza aqui no sentido de “mas”.

E LHE EMPRESTARÁS. Se ele não quer doação, da a ele como empréstimo.

DE ACORDO COM SUAS NECESSIDADES. Não se pede que você o enriqueça.

DE ACORDO COM O QUE LHE FALTA. Mesmo que seja um cavalo de sela ou um escravo para correr diante dele.

ELE. Uma mulher. Assim está escrito (GEN. II, 18) “Eu farei para ELE uma ajuda que lhe convenha”

 

 

64 - SHOFTIM

 

Chumash

Cap. XVI

Vers. 18. Estabelecerás juizes e funcionários em todas as portas que o Senhor teu D’us te da, para tuas tribos, e eles julgarão o povo de acordo com a justiça.

Vers. 19. Não desviarás o direito, não farás exceção para ninguém e não aceitarás presentes que corrompam, porque a corrupção cega os olhos dos sábios e falseia as palavras dos justos.

Vers. 20. A justiça, é a justiça que perseguirás, para que vivas e que ocupes o país que o Senhor teu D’us te da.

 

Rashi

18. Shoftim ve Shotrim. Os Shoftim são os juizes que pronunciam as sentenças e os Shotrim os que castigam o povo de acordo com as decisões dos juizes. Eles aplicam as penas de pauladas e flagelação com a vara ou as correias até que seja aceita a decisão do juiz. – EM TODAS AS PORTAS. Em todas as cidades. – PARA TUAS TRIBOS. Refere-se a “tu estabelecerás”: “juizes e executores estabelecerás de cada uma das tuas tribos, em todas as portas que o Senhor teu D’us te da.” – PARA TUAS TRIBOS. Isso nos ensina que se estabeleciam juizes para cada tribo e cada cidade. – E ELES JULGARÃO O POVO ... Nomeia juizes competentes e eqüitativos para que julguem com equidade.

19. TU NÃO DESVIARÁS O DIREITO. Compreender literalmente – TU NÃO DARÁS PRIVILÉGIO A NINGUÉM. Nem mesmo durante as alegações. É um mandamento dirigido ao juiz par que ele não seja gentil com um e duro com o outro, por exemplo fazendo um sentar e deixando o outro de pé, porque aquele que ve o juiz tratar seu adversário com mais respeito que ele, perde seus meios (literalmente: seus argumentos são interrompidos) – NÃO ACEITARÁS PRESENTES. Até mesmo para julgar com equidade. PORQUE OS PRESENTES CEGAM. É impossível não se deixar influenciar por aquele de quem se recebeu um presente, inclinando-se em seu favor. – Divrei Tasadiquim: as palavras declaradas justas por excelência, os julgamentos de verdade.

20. A JUSTIÇA É A JUSTIÇA QUE PERSEGUIRÁS. Procura um bom tribunal. – PARA QUE VIVAS E TE OCUPES. A nomeação de juizes incorruptíveis é uma condição suficiente para fazer viver e manter Israel sobre sua terra.

 

Chumash

Cap. XVII

Vers. 8. Quando precisares julgar um caso que te ultrapasse, questão de assassinato, de direito civil, ou de golpes e feridas, litígio qualquer em tuas portas, levantar-te-ás e subirás ao local que o Senhor teu D’us tenha escolhido.

Vers. 9. E irás aos sacerdotes levitas e ao juiz que esteja então funcionando, e informar-te-ás e  indicar-te-ão o veredicto a ser pronunciado.

Vers. 10. Conformar-te-ás à sentença que eles te indicarão deste local que o Senhor tenha escolhido e terás cuidado de agir de acordo com tudo o que eles te ensinarão.

Vers. 11. Agirás de acordo com a instrução que eles te dêem e com o julgamento que eles te enunciem, não te afastarás da sentença que eles te indiquem, nem para a direita nem para a esquerda.

Vers. 12. Mas o homem que, em seu orgulho, recusar obedecer ao sacerdote ali estabelecido para o serviço do Senhor teu D’us, ou ao juiz, este homem morrerá e farás desaparecer o mal do meio de Israel.

Vers. 13. E todo o povo ouvirá e temerá e não se abandonará mais ao orgulho.

 

Rashi

11. NEM PARA A DIREITA NEM PARA A ESQUERDA. Mesmo quando te afirmem que o que pensas estar à direita está à esquerda e vice versa, é preciso obedecer e com mais razão quando ele te diz que a direita é a direita e a esquerda a esquerda.

 

 

65 –QUI TETSÉ

 

Chumash

Cap. XXII

Vers. 5. Uma mulher não usará roupa masculina e um homem não vestirá uma roupa de mulher; o Senhor teu D’us tem horror de alguém que age assim.

 

Rashi

5. UMA MULHER NÃO USARÁ ROUPA MASCULINA. De modo a que ele pareça um homem, para se misturar com os homens, o que se pode levar a uma má conduta. - UM HOMEM NÃO VESTIRÁ UMA ROUPA DE MULHER. Para ir sentar entre as mulheres. Outra explicação: para proibir a depilação do púbis e das axilas. – HORROR ...: A Torá só proíbe a roupa que leva a cometer uma abominação.

 

Chumash

Cap. XXV

Vers. 1. Quando houver uma disputa entre homens, eles se apresentarão diante do tribunal e serão julgados: o inocente será libertado e o culpado condenado.

Vers. 2. Se o culpado merece a flagelação, o juiz fará com que se deite no chão e receba o castigo na frente, na proporção da sua falta, o fará flagelar com uma quantidade de

Vers. 3. quarenta golpes, não mais, com medo de lhe infligir demais se continuar, e assim teu irmão seria aviltado aos teus olhos.

 

Rashi

2. SE O CULPADO MERECE A FLAGELAÇÃO .. “Se”: às vezes se bate nele, outras vezes não. Pode se deduzir os casos em que a flagelação se aplica, pelo assunto a seguir (v 4): “Não amordaçarás o boi quando debulhar”: é uma defesa que não está ligada a um mandamento positivo. – O JUIZ FARÁ COM QUE SE DEITE. Isso nos ensina que não se batia nele nem quando estava em pé nem sentado mas esticado. – NA FRENTE, EM PROPORÇÃO À SUA FALTA. (Para uma parte da sua falta, reshaató estando no singular) e sobre as costas para duas partes (2/3) da sua falta. Do qual se deduz que 2/3 dos golpes eram sobre as costas e 1/3 sobre o peito. – Bemispar COM UMA QUANTIDADE. Não está pontuado com patach debaixo do bet – Disso se deduz que está no estado construído, ligando-se à primeira palavra do versículo seguinte: em número de 40 (conduzindo a 40), não 40 completos, mas um número que chega a 40 por adição, quer dizer 40 – 1 = 39.

 

 

66 –QUI TAVÓ

 

Chumash

Cap. XXVI

Vers. 16. Neste dia, o Senhor teu D’us te ordena cumprir estas leis e estes preceitos; os observarás e os colocarás em prática com todo teu coração e com toda tua alma.

Vers. 17. Distinguiste hoje o Senhor para fazer d’Ele teu D’us, para andar nas Suas vias, observar Suas leis, Seus mandamentos e Seus preceitos, ouvir Sua voz.

Vers. 18. E o Senhor distinguiu-te, por sua vez, hoje, para que sejas Seu povo de eleição, como Ele te disse e para que observes todos Seus mandamentos:

Vers. 19. Com a finalidade de elevar-te acima de todos os povos que Ele fez, em honra, em nome e pela glória, para que sejas o povo santificado do Senhor teu D’us como Ele te disse.

 

Rashi

16. NESTE DIA O SENHOR, TEU D’US, TE ORDENA. Que cada dia eles te pareçam novos, como se os recebesses neste mesmo dia. – OBSERVARÁS E COLOCARÁS OS MANDAMENTOS EM PRÁTICA. Uma voz celestial lhe confere, com essas palavras, uma bênção: hoje trouxeste as primícias, adquiriste assim o mérito de trazê-las também no ano que vem.

 

 

67 –NITSAVIM

 

Chumash

Cap. XXX

Vers. 11. Porque esta lei que te prescrevo hoje não elevada demais para ti nem está muito afastada.

Vers. 12. Ela não está no céu para que digas: “Que subirá por nós ao céu para trazê-la, para nos fazer compreendê-la, que a coloquemos em prática!”

Vers. 13. E ela não está além dos mares para me digas: “Quem irá por nós além dos mares para trazê-la, para nos fazer compreendê-la, que a coloquemos em prática!”

Vers. 14. Pelo contrário, ela está muito próxima de ti: na tua boca, no teu coração, para que a cumpras.

Vers. 15. Olha, coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal.

Vers. 16. Fazendo o que te ordeno hoje, de amar o Senhor teu D’us e de andar nas usas vias, de observar esses mandamentos, essas leis e esses estatutos, viverás, crescerás e o Senhor teu D’us te abençoará no país que está por possuir.

Vers. 17. Mas se teu coração se desvia e se não ouves, se te deixas levar para te prosternar diante dos deuses estrangeiros e para servi-los:

Vers. 18. Eu vós declaro hoje que perecereis, não se prolongarão vossos dias sobre a terra onde, passando o Jordão, vais entrar para tomar posse.

Vers. 19. Tomo por testemunha contra vós neste dia o céu e a terra: coloquei diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição, tu elegerás a vida para que vivas, tu e tua descendência,

Vers. 20. Amando o Senhor teu D’us, ouvindo sua voz e se ligando a ele; porque nisso está a tua vida e a tua longevidade, é assim que permanecerás sobre a terra que o Senhor jurou dar para teus pais Avraham, Itschac e Iaacov.

 

Rashi

11. NÃO É ELEVADA DEMAIS PARA TI, niflet. Ela não está oculta para ti, como foi dito (DEUT., XVII, 8): “se este caso te supera, iflé”. Targum Ari Itcassi; “é oculta para ti”; (LAMENTAÇÕES, I, 9), “ela desceu pelim”, ela desceu para lugares ocultos, dissimulada, atada a esses lugares retirados.

12. ELA NÃO ESTÁ NO CÉU. Se ela estivesse no céu, deverias também subir ao céu e persegui-la para estudá-la.

14. MUITO PRÓXIMA DE TI. A Torá foi-vos dada por escrito e oralmente.

15. A VIDA E O BEM. Uma depende do outro: se tu fazes o bem, eis a vida; se tu fazes o mal, eis a morte. A escritura continua explicando a maneira.

16. QUE EU HOJE TE ORDENO PARA AMAR. Eis o bem; e disso depende “TU VIVERÁS, TU CRESCERÁS” quer dizer a vida.

17. MAS SE TEU CORAÇÃO SE DESVIA. Eis o mal.

18. QUE PERECEREIS. Eis a morte.

 

 

68 –VAIELECH

 

Chumash

Cap. XXXI. -

Vers. 11. No momento em que todo Israel veio se apresentar diante do Senhor teu D’us no lugar que Ele tenha escolhido, lerás esta lei, frente a todo Israel, em seus ouvidos.

Vers. 12. Reúne o povo, homens, mulheres, crianças e estrangeiro que está em tuas portas para que eles escutem, que aprendam a temer o Senhor teu D’us e que tomem cuidado para cumprir todas as palavras desta lei.

Vers. 13. E seus filhos que não os conhecem ainda ouvirão e aprenderão a temer o Senhor vosso D’us todos os dias que viverem sobre a terra da que tomarem posse ao atravessar o Jordão.

 

Rashi

11. – LERÁS ESTA LEI. O rei a lia desde o inicio de Deuteronômio, como se explica no Tratado de Sotá, sobre um estrado de madeira que se erigia na Corte do Templo.

12. OS HOMENS. Para aprender. – AS MULHERES. Para ouvir. – E AS CRIANÇAS. Por que vinham? Para procurar um mérito àqueles que os traziam.

13.

 

Chumash

Cap. XXXI. -

Vers. 20. Quando Eu o tenha levado para a terra que prometi aos seus pais, onde jorra leite e mel, que ele comerá, ficará satisfeito e engordará, ele se voltará para deuses estrangeiros e os servirá, e eles provocarão a Minha cólera, derrubando Minha aliança.

Vers. 21. Quando então caírem sobre ele numerosos males e testes, este cântico servirá de testemunho contra ele, porque a boca da sua posteridade não o esquecerá. Porque Eu conheço suas tendências. Eu sei o que ele faz hoje, já antes mesmo de tê-lo levado para a terra prometida.”

Vers. 22. Moshé escreveu neste dia este cântico e o ensinou aos filhos de Israel.

 

Rashi

20. Vaneatshuni. Ele me encolerizaram. Niets tem sempre o sentido de cólera.

21. ESTE CÂNTICO SERVIRÁ DE TESTEMUNHO CONTRA ELE. Porque Eu o adverti de tudo que lhe ocorreria. PORQUE A BOCA DA SUA POSTERIDADE NÃO O ESQUECERÁ. Esta é a promessa feita a Israel que seus descendentes nunca esquecerão completamente a Torá.

 

 

69 –HAAZINU

 

Chumash

Cap. XXXII. –

Vers. 46. Ele lhes disse: “Tomai a peito todas as palavras que estabeleço como testemunhos hoje contra vós; vós as prescrevereis a vossos filhos para que as observem e coloquem em prática todas as palavras desta Lei.

Vers. 47. Porque ela não é coisa vazia para vós, ela é a vossa vida e é através dela que prolongareis os vossos dias sobre a terra da que tomareis posse ao atravessar o Jordão.

 

Rashi

46. TOMAI A PEITO. É preciso que o homem aplique seus olhos, seus ouvidos, seu coração nas palavras da Torá; é assim que se diz também (Ezequiel, XL, 4) “Filho do homem, olha com teus olhos, com teus ouvidos escuta e presta tua atenção a tudo o que Eu te mostrarei ...” Portanto, é possível estabelecer um raciocínio a fortiori: Se já o plano do Templo, que é visível, que pode ser medido com uma vara, exige do homem que lhe aplique seus olhos, seus ouvidos e seu coração, quanto mais as palavras da Torá que são como montanhas suspensas por um cabelo.

47. PORQUE ELA NÃO É COISA VAZIA PARA VÓS. Não vos penareis em vão sobre ela, uma grande recompensa está ligada a ela, PORQUE ELA É VOSSA VIDA. Outra explicação: Não há nada vazio na Torá que se o meditas, não te traga benefício. A prova é este ensinamento dos Sábios (GEN. XXXVI, 22-12): “e a irmã de Lotan era Timna” e “...Timna se tornou concubina de Elifaz, filho de Esav ...”. Ela disse a si mesma: “não sou digna de ser sua mulher, queiram os céus que eu me torne sua concubina”. Porque tudo isso? Para fazer conhecer a glória de Avraham, tão grande que os príncipes e os reis desejavam unir-se à sua posteridade.

 

 

70 –VEZOT HABERACHA

 

Chumash

Cap. XXXIII. –

Vers. 4. A Lei que Moshé nos prescreveu é uma herança para a comunidade de Iaacov.

 

Rashi

4. A Lei que MOSHÉ NOS PRESCREVEU é uma HERANÇA PARA A COMUNIDADE DE IAACOV. Nós a seguramos firme e não a abandonaremos

 

Chumash

Cap. XXXIII. –

Vers. 18. Regozija-te, Zevulun, nas tuas saídas, Issachar nas tuas tendas.

 

Rashi

18. DE ZEVULUN, ELE DISSE. Ele mencionou duas vezes os nomes dessas cinco tribos que abençoou por último – Zevulun, Gad, Dan, Naftali e Asher – para fortalecê-las e afirmá-las porque eram as mais fracas de todas. Foram eles que Iossef apresentou ao Faraó quando disse (GEN., XLVII, 2): “Depois ele tomou uma parte de seus irmãos, cinco homens, e os levou à presença do Faraó”, porque tinham o aspecto fraco, para evitar que ele os coloque à frente do seu exército. – REGOZIJA-TE, ZEVULUN, NAS TUAS SAÍDAS, ISSACHAR NAS TUAS TENDAS. Zevulun e Issachar se associaram: Zevulun habitará na beira do mar e sairá com seus navios para fazer comércio e enriquecerá e sustentará as necessidades de Issachar que, ele, permanecerá sentado, estudando a Torá; também mencionou Zevulun antes de Issachar, por a Torá de Issachar só existe graças a Zevulun. - REGOZIJA-TE, ZEVULUN, NAS TUAS SAÍDAS. Tenha sucesso nas tuas saídas comerciais. E ISSACHAR. Tenha sucesso no teu estudo, sentado nas tuas tendas, determinando os anos embolísmicos, fixando os meses, como está dito (I Crón., XII, 33): “Pessoas de Issachar, peritos no conhecimento dos tempos ..., vieram duzentos chefes”: como chefes do Sanhedrin, ocupavam-se com isso e de acordo com o que fixavam sobre as estações e seus cálculos dos anos embolísmicos.


 

 

Dvora

UMA MULHER DE VALOR

 

Débora, brilhante estudante da Torá –

Vitebsk, em meio aos horrores da guerra russo - polonesa –

A influência de Débora em Vitebsk – Vida por vida –

Uma Ieshiva que leva o nome de uma mulher.

 

 

Tsadoc-Moshé morava na casa de um certo Samuel-Nachum que era um homem muito sábio e um judeu temente a D’us. Era um grande sábio da Torá que, além dos seus amplos conhecimentos, era um perito em matéria de comércio.

Apesar de nunca ter se consagrado diretamente aos negócios, ele os entendia tão bem que se tornou árbitro de todos os litígios comerciais e conselheiro jurídico dos homens de negócios com problemas. Na realidade, esta era sua maneira de ganhar a vida.

Samuel Nachum tinha uma filha chamada Débora que era a única sobrevivente dos seus muitos filhos, todos, infelizmente, mortos na infância. Entendemos com facilidade o que Débora representava para seus pais! Eles a ‘incubavam’ literalmente!

Temiam tanto que ela viesse que sofrer a mesma sorte dos coitados dos seus irmãos e irmãs que pensavam em quaisquer coisas suscetíveis para protegê-la.

Faziam muita tsedacá em seu nome e a cada ano, no seu aniversário, faziam doação de madeira nova ao responsável pelo cemitério, para que ele reforçasse a barreira que o envolvia.

Também ‘deram’ virtualmente Débora a um casal de amigos idosos para que a ‘adotem’. Este casal tinha muitos filhos, todos vivos, e os pais de Débora esperavam que sua vida também fosse salva graças às ‘suas ligações’ com esta família.

Débora era uma criança dotada, seus parentes a adoravam e só viviam para ela. Seu pai começou a instrui-la enquanto ainda era uma criança de cinco anos. Ela fez maravilhosos progressos e com oito anos aprendia já Chumash e os Profetas!

Com dez anos, tinha um conhecimento profundo da Torá inteira e começou a aprender a Mishna e o Shulchan Aruch. Além do mais, seu pai lhe ensinou a ler e a escrever polonês e também matemática.

Samuel Nachum não queria confiar sua instrução a nenhum professor. Preferia supervisionar ele mesmo os seus estudos.

E podia, com justiça, orgulhar-se da sua aluna e do seu ensino, já que com a idade de quinze anos, ela estudava Guemara com Rashi!

Aos dezoito anos ela casou com um jovem muito distinto, filho de um conhecido e respeitado judeu de Minsk e viveu feliz com ele durante dez anos durante os quais seu marido ganhava muito bem a vida graças aos seus negócios. Débora era uma esposa feliz e uma mãe feliz. Ela se sentia feliz por ter um marido tão afetuoso e filhos também adoráveis, duas filhas e um filho.

Depois, a tragédia se abateu totalmente na sua vida e se não fosse pela sua enorme coragem e seu espírito indomável, ela nunca teria podido ultrapassá-la como o fez.

As duas filhas de Débora morreram durante uma epidemia que atingiu as crianças do distrito e, para aumentar a sua dor total, seu marido ficou seriamente doente morrendo, ele também, no mesmo ano.

A pobre viúva, levando seu filho órfão, se retirou para a casa dos pais mas a morte parecia decidida a persegui-la, porque três anos depois, o único filho que lhe havia sobrado ficou doente e seguiu suas duas irmãs para o túmulo!

Outra mulher em seu lugar teria certamente perdido a razão; afinal ela havia perdido praticamente todos os que lhe eram queridos. Para que viver daqui em diante?

Ela se esforçou para esconder sua dor dos pais, que estavam com o coração quebrado com seu sofrimento. Ela se mostrava calma na presença deles e quando sentia que o esforço era muito duro para ela, ia para seu quarto e se deixava envolver pela tristeza, num dilúvio de lágrimas e soluços.

Era uma mulher sábia e entendeu que devia se refazer e ver o que poderia fazer futuramente para levar uma vida útil e justificar sua existência de verdade.

Mergulhou mais do que nunca no estudo e nas obras sociais.

Ela implorou ao Todo-Poderoso para guiá-la no caminho reto e O suplicou lhe outorgasse força e sabedoria para ensinar tudo o que tinha tido a sorte de aprender dos pais, às suas irmãs judias de Minsk. Dessa maneira não se sentiria tão solitária e inútil.

Débora tinha duas amigas de infância que também tinham estudado como ela mas que não eram tão brilhantes. Agora, todas as três, adultas, tinham o costume de se reunir para estudar juntas a Torá. Instituíram círculos de estudo entre as jovens mulheres judias de Minsk e fizeram conferências para elas ensinando todas as obrigações de uma verdadeira filha de Israel.

Estes círculos se tornaram tão populares e tomaram uma extensão tal que Débora estava muito ocupada, dando conferências aqui e lá, em todos os lugares. Era uma excelente oradora e era um prazer ouvir sua voz límpida, comovente e sua explicação clara.

Débora encontrava grande consolo no seu trabalho já que, ajudando os outros, acalmava ao mesmo tempo a pena do seu coração dolorido.

Nesta época, estudava os seguintes três livros: Jó (Iiov), Eclesiastes (Cohelet) e os Provérbios (Mishlé).

No Livro de Jó, Débora aprendeu aquilo relacionado com o julgamento e o castigo de D’us.

O Eclesiastes lhe mostrou a vaidade do mundo e dos assim chamados prazeres humanos.

O Livro dos Provérbios ensinou-lhe a vida espiritual verdadeira.

Ela conhecia esses três livros com todos os seus comentários e realizou que podia estudá-los continuamente e sempre encontrar neles algo novo e importante.

Tsadoc-Moshé se encheu de admiração por essa extraordinária mulher, tão cheia de coragem e de entusiasmo pelo bem e pelo progresso dos seus semelhantes, esquecendo suas próprias tragédias e se associando às esperanças e às ambições dos outros.

Ele sentia que ela seria a companheira ideal para seu mestre, o ermitão Nachum, mas como poderia colocá-los um na presença do outro?

Duas semanas antes da sua partida de Minsk, Tsadoc-Moshé tocou no assunto com seu anfitrião, o pai de Débora.

Ele falou extensamente sobre seu patrão, dizendo o homem extraordinário que era e, na sua opinião, o bom marido que seria para Débora. Ele disse que, naturalmente, precisaria antes falar com Nachum para poder discutir o assunto; mas já que estava aqui, ele achava que seria bom conhecer a opinião de Samuel-Nachum com respeito a esta sugestão.

Samuel Nachum estava muito interessado mas disse que seria necessário consultar Débora antes de fazer qualquer proposta a Nachum.

Quando se tocou no assunto com Débora, esta foi razoável. Ela disse que estava curiosa de encontrar Nachum já que ele parecia tão extraordinário, mas que não se poderia esperar dela um compromisso para dizer sim ou não com respeito a aceitá-lo como esposo antes de tê-lo visto!

Na verdade, dizia Débora, contrariaria a Torá se comprometer numa promessa de casamento antes de ter se visto mutuamente. Ela demostrou sua erudição argüindo que a proibição expressa pelo Talmud, de fazer um noivado sem ter visto a futura esposa, se baseava no temor que depois o noivo poderia reclamar por um defeito físico da sua noiva, quando a visse, e desta maneira, comprometeria o bom entendimento do lar; ora isso se opõe de maneira flagrante ao mandamento do versículo: “Amarás o próximo como a ti mesmo”. Como este versículo não constitui uma Mitsva a ser cumprida num momento preciso, se dirige tanto à mulher quanto ao homem. Portanto não há nenhuma razão para que a proibição não se aplique tanto para a noiva, que não tem o direito de se comprometer numa união antes de ter visto o outro parceiro, quanto para o noivo.

Seu pai, por outro lado, lhe respondeu, citando Maimônides, que a expressão usada contra as uniões feitas sem entrevista não era uma expressão de proibição total mas sim apenas um conselho. Se você quer que tua união seja um sucesso, diz o Talmud, então não te comprometa antes de ter tido uma entrevista.

Mas Débora refutou a afirmação do pai, provando que na verdade o Talmud se referia à proibição e não somente a desaconselhar um noivado sem entrevista. Ela citou o Talmud que insiste nas graves conseqüências que uma união feita dessa maneira poderia ter.

Resolveu-se então que não se falaria de casamento mas que se marcaria um encontro entre Nachum e Débora.

Tsadoc-Moshé, que não era um grande sábio mas tinha instrução suficiente para acompanhar a discussão entre Débora e o pai, ficou cheio de admiração diante da extensão do seu saber.

Foi assim que Tsadoc-Moshé partiu de volta para Vitebsk, cheio de entusiasmo com a idéia do encontro entre Nachum e Débora. Ele descreveu Débora a Nachum em termos tão cálidos que este último aceitou ir a Minsk para conhecer esta extraordinária mulher.

A visita ocorreu e Nachum e Débora se acharam dignos um do outro. Eles noivaram e pouco tempo depois casaram.

Tsadoc-Moshé sugeriu que Débora se encarregue dali em diante dos negócios e das contas do seu marido e Nachum disse que concordava com prazer se Débora o quisesse. Ele estava contente demais com que não lhe pedissem para passar o tempo ocupando-se dos seus negócios.

Débora se revelou rapidamente uma mulher de negócios muito capaz, que sabia calcular e, principalmente, que fazia prova de uma grande compreensão com respeito aos seus empregados. Todos a adoravam pelas maneiras amigáveis e pelo interesse que demostrava por eles.

Evidentemente Débora tinha o maior respeito e a maior estima pelos estudantes da Torá mas nos seus relacionamentos com seus semelhantes ela não fazia nenhuma distinção e tratava todo mundo, sábio ou não, rico ou pobre, com respeito e benevolência.

No espaço de alguns meses ela tinha se afirmado como chefe à cabeça dos negócios do marido mas além disso ela tinha conquistado um bom nome na área da instrução judaica tanto entre os homens como entre as mulheres. Mas é claro que ela concentrava seus esforços mais especialmente nas mulheres, que precisavam muito mais dela.

Ela estava tão acostumada com o fato das mulheres de Minsk serem instruídas que a ignorância assustadora das mulheres de Vitebsk a chocava profundamente. Ao mesmo tempo, esta ignorância despertava nela um sentimento de compaixão quando constatava que durante tanto tempo elas tinham sido tão lamentavelmente negligenciadas. Débora decidiu mudar esta deplorável situação tão logo fosse possível e começou a organizar círculos de estudo para as mulheres como o havia feito em Minsk. Ela chamou também a atenção sobre a falta de instituições destinadas a ocupar-se com os doentes e os necessitados e mostrou o exemplo no que diz respeito à sua fundação e manutenção.

Certamente ela estava muito ocupada e levava uma vida realmente bem cheia!

Um dia falou disso com o marido, mas ele respondeu suavemente:

- Minha querida esposa, estou certo que você resolve perfeitamente os problemas sem a minha ajuda, então porque me imiscuir agora com esses assuntos materiais? Você sabe que acho que meu dever reside no estudo e na oração e não há lugar para nada mais numa vida dessas.

Mas Débora não queria parar por aí e começou a citar exemplos de todos os grandes Tanaim e Amoraim, que encontravam tempo para se ocupar dos seus interesses materiais tanto quanto dos interesses espirituais.

- Querido Nachum, você certamente sabe o que está escrito em Taanit, página 9, com respeito ao Rabino Daniel Bar Catina, que ia todos os dias para o seu jardim para controlar o programa de jardinagem do dia. Lembra também que em Nedarim, pág. 62, nos falam do Rav Achi que fazia comércio mesmo com os adoradores do fogo. E explicava que não era contra o Din.

Débora citou o caso de muitos Tanaim e Amoraim, que amassaram fortunas ou as receberam como herança e terminou seus argumentos referindo-se à palavra dos nossos Sábios dizendo que “a Torá sem o trabalho não conduz a nada”.

Mas Nachum disse que seu mestre, o grande Parush de Cracóvia, afirmava que a palavra “trabalho” significava “serviço” do Todo-Poderoso. Nachum suplicou-lhe que admitisse que seu modo de vida era o certo e que o deixasse continuar vivendo como antes. Entretanto Débora insistiu porque acreditava firmemente que o marido devia ocupar-se de certa maneira com coisas mais materiais e viver uma vida mais completa. Tentou abordá-lo sob outro angulo.

- Então escuta, você sabe se está cumprindo ou não a Mitsva de dar o Maasser (o dízimo) em esmolas? Você deveria verificar as contas, já que somente dessa maneira vai poder descobrir.

Nachum precisou admitir que nunca o tinha feito, contentando-se em dar esmolas ao azar. Ele objetou que isso levaria muito tempo e que ele não poderia se permitir fazê-lo, se fosse realmente preciso calcular o valor exato do “Maasser”.

Débora assegurou-lhe que tinha feito as contas, que estas estavam absolutamente em dia, e que com muito pouco trabalho eles poderiam conseguir saber os valores que Nachum havia dado como esmola desde que tinha herdado a fortuna do pai e a quantia que deveria ter sido dada.

Nachum ficou não apenas surpreso de constatar que sua esposa era um chefe com uma enorme capacidade para os negócios, como também aturdido pelo seu extenso conhecimento da Torá! Cada vez ele se dava mais conta do tesouro que representava para ele uma esposa assim e seu respeito e sua admiração por ela cresceram enormemente.

Agora que ele pensava nela e no lugar que ela ocupava, se dava conta também da mudança que tinha resultado da sua chegada, não somente na sua própria casa, que tinha se tornado um verdadeiro “centro de acolhida e conselho dos Sábios”, como também em Vitebsk em geral, onde sua influência era sentida e apreciada em todas as áreas de atividade social e de instrução!

O que ele ignorava era que Débora encontrava tempo para estudar o Talmud todos os dias e que ela já estava estudando o “Shass” pela segunda vez!

 

***

 

Em 5414 (1654) estourou a guerra entre a Polônia e a Rússia. Os combates transcorreram na região compreendida entre Vitebsk e Smolensk e duraram treze anos!

Durante este período os comerciantes de Vitebsk se ocuparam em fornecer ao governo tudo que era necessário para vestir e alimentar o exército. Em 5427 (1667) o General Sheremetiev ocupou Vitebsk prendendo a maioria dos comerciantes e deportando-os para o interior da Rússia.

Foram mantidos presos durante três anos antes de serem libertados e mandados de volta finalmente para seus lares.

Mas nada, nem mesmo esta longa guerra, tinham afetado Vitebsk e sua comunidade judia tanto quanto a chegada de Débora.

Quando ela chegou, encontrou a prosperidade material mas a decadência espiritual. Entre as mulheres particularmente, tinha encontrado um nível espiritual muito baixo.

Mas agora o quadro era tão diferente! Ela havia organizado estabelecimentos para o ensino da Torá, instituições de caridade e centros para a propagação da instrução judaica.

Débora viu que todos seus esforços para tirar o marido do seu retiro tinham sido em vão e decidiu portanto que não poderia fazer nada além de aceitar a situação com a maior boa vontade possível. Depois de tudo, ela reconhecia e considerava excepcionalmente elevadas as qualidades morais do seu santo marido.

Nestas circunstâncias entendeu e aceitou o fato dele passar menos tempo com ela que os outros maridos com suas mulheres; mas ela sabia como usar da melhor maneira seu lazer.

Havia na biblioteca do marido uma coleção maravilhosa de livros que tinham sido transmitidos de pai para filho por várias gerações; quando tinha tempo, Débora ia lá e procurava entre os livros um que chamasse sua atenção. Havia todo tipo de livros sobre todos os assuntos possíveis e, com sua sede de saber, sede que nunca podia ser saciada, Débora era a pessoa mais feliz do mundo quando a deixavam no seu ‘festim’ literário!

Débora sentia que estes tesouros literários do marido valiam mil vezes mais que tesouros materiais. Sim, Débora era uma mulher feliz.

Como já o dissemos, as principais atividades de Débora eram dedicadas às mulheres judias de Vitebsk. Em primeiro lugar, ela apelava para seus corações, bons e femininos, e lhes pedia ajuda para as várias obras de caridade.

Elas estavam prontas para ajudá-la de bom grado estabelecendo organizações e instituições caritativas. Isto permitia que Débora tivesse mais oportunidades de também influenciá-las em outras direções.

Todas as mulheres a aceitavam como chefe e guia, reconhecendo suas qualidades e seus dons superiores.

Assim, quando se reuniam, Débora usava a ocasião para entretê-las também sobre assuntos religiosos. Ela lhes contava histórias do Midrash, provérbios dos nossos Sábios, “Dinim” com particular interesse e significado para a mulheres e elas a escutavam pronta e avidamente, já que Débora tinha um maravilhoso poder eloqüente e era um verdadeiro prazer escutá-la! Ela lhes falava com simplicidade e todas a entendiam sem dificuldade. Nesta época existia já um “Taitsh-Chumash” (Chumash, lei de Moisés, com tradução em Idishe), impresso especialmente para as mulheres, e Débora lia trechos do mesmo, estimulando-as a fazê-lo por elas mesmas.

Mas Débora não se contentava com ocupar-se de uma só parte da comunidade judaica. Sua ambição era ver toda Vitebsk se tornar um centro de ciência judaica. E por que não? Era apenas uma questão de tempo para que Vitebsk se tornasse tão “literária” quanto Minsk ou quanto qualquer outra cidade judia célebre.

Desde a infância Débora recordava ter visto estudantes de Ieshivot que vinham comer “Teg” (as refeições diárias” na casa dos seus pais e depois ela manteve este costume na própria casa. Mas em Vitebsk, só tinha uma pequena Ieshiva, mais ou menos reservada para os estudantes locais, e não se considerou necessário introduzir esta prática e, mesmo sentindo a necessidade de fazê-lo, as pessoas de Vitebsk não estavam acostumadas com uma organização dessas.

Débora decidiu que seria bom para os Judeus de Vitebsk que fizessem essa inovação, que ensinava as virtudes da hospitalidade, e falou disso com o marido para ver qual seria o melhor plano para a campanha.

Pensando que a caridade deve começar em casa, e que eles deveriam dar o exemplo, ela sugeriu que o marido escolhesse cinco ou seis jovens entre os estudantes da Ieshiva local e que os mandasse a uma das Ieshivot famosas, de Cracóvia ou de Praga. Lá ficariam por conta dele até que sua instrução alcançasse um nível bem elevado para poderem voltar a Vitebsk onde dariam aos estudantes o benefício da sua instrução e do seu saber superiores. Eles seriam os pioneiros de uma geração de homens instruídos da Torá.

Como isso exigiria, evidentemente, alguns anos, Débora propôs que Nachum designasse alguém que iria às maiores e mais célebres Ieshivot de Minsk, Slutz, Brisk e Wilno para lá escolher mestres adequados e dispostos a ir instalar-se em Vitebsk com suas mulheres e filhos, com a condição de aceitarem morar e ensinar nos distritos para onde fossem indicados.

A finalidade que se procurava era que todo o território estivesse coberto e que a instrução religiosa de toda a comunidade fosse assegurada.

Nachum consentiu de bom grado e nomeou Rabi Moshé, filho de seu antigo mestre, o santo Gaon Iecutiel-Zalman de Cracóvia, como a pessoa mais indicada para escolher os professores necessários.

Nachum informou a Rabi Moshé que ele assumia todas as despesas, inclusive a manutenção dos mestres e de suas famílias durante sua permanência em Vitebsk. Entretanto, estipulou que não deveriam saber que era Nachum que pagava seus salários. Ele preferia ser seu benfeitor anônimo.

E, prosseguiu Nachum, se houvesse em Vitebsk gente que quisesse contribuir nas despesas de instrução, podia aceitar-se seu dinheiro e distribuí-lo para as obras sociais.

Ele queria de qualquer maneira assumir, ele sozinho, as despesas desta realização.

O projeto levou muito tempo e reflexão antes de ser levado adiante, como era de se esperar, e só uns nove meses depois é que Rabi Moshé acabou a sua missão e voltou a Vitebsk com dez mestres que respondiam às exigências formuladas por Nachum e Débora.

A chegada desses mestres acabou atraindo para Vitebsk outros estudantes entres os quais encontrava-se um certo Rabi Efraim-Simcha.

Finalmente se podia ouvir em toda a cidade de Vitebsk os suaves acentos da Torá. Organizaram-se “Shiurim” de modo a permitir àqueles que queriam assistir a eles, que o fizessem sem se deslocar muito. Os horários eram também estabelecidos de maneira cômoda.

Tudo era feito para encorajá-los, e os judeus de Vitebsk começaram a freqüentar os “Shiurim”, um a um, depois progressivamente as gotas se transformaram em rios e os “estudantes” se interessavam cada vez mais pelas aulas.

Rapidamente, os habitantes de todas as idades, jovens e velhos, acharam totalmente natural reunir-se para ouvir “uma palavra da Torá”. O sonho de Débora de fazer de Vitebsk um centro de Torá se transformava progressivamente numa magnífica realidade!

Tudo isso ocorreu em menos tempo do que requer escrevê-lo.

Havia dez anos que Débora havia falado desse projeto com seu marido pela primeira vez e a transformação de Vitebsk era muito clara.

Apesar de Nachum estar pouco disposto a mudar seus costumes, ele também tinha sido influenciado pela energia da mulher. Pouco a pouco ele tinha saído do seu isolamento, começando a se interessar pela vida que se desenrolava ao seu redor.

Eram os professores chegados das diferentes Ieshivot, que tinham despertado seu interesse em primeiro lugar. Ele passou a se encontrar com eles e a discutir assuntos da Torá. Isso parecia dar um fim em certa medida ao seu período de isolamento. Nessa época, ele até queria estar a par dos assuntos referentes aos seus negócios!

Débora estava encantada acolhendo esses talmudistas em sua casa e vendo a que ponto Nachum tinha prazer na companhia deles e era feliz participando dos “Pilpulim” aos quais se entregavam.

***

 

Foram anos verdadeiramente felizes para Nachum e Débora, mas sua felicidade era encoberta pela ausência de filhos. Se tivessem pelo menos um filho para continuar seu nome, como teriam sido felizes! Eles avançavam na idade e suas esperanças iam se reduzindo.

Enquanto isso, receberam um hóspede muito particular. Nada menos que o célebre sábio e especialista em Cabala, Rabi Moshé-Guershon, discípulo do Gaon Rabi Eliahu, que era conhecido nesta época com o nome de “Baal-Shem de Worms”.

Durante muitos anos o Rabi Moshé-Guershon havia estudado com o famoso Rabi Pinchas, em Fulda, na Alemanha.

Nachum ficou verdadeiramente emocionado recebendo uma visitante tão distinta e procurou todas as oportunidades para discutir com ele assuntos de Torá.

Encontraram muitos assuntos de conversa e Nachum se sentia tão atraído por ele que podia lhe falar sem nenhuma reserva.

Foi assim que chegou a confiar-lhe os segredos mais íntimos do seu coração e lhe falou da tristeza que nunca antes havia revelado a pessoa alguma, o fato de não ter filhos.

Rabi Moshé-Guershon o escutou com grande compreensão e lhe disse, com bondade: “Você sabe, meu caro amigo, que não existe ninguém no mundo que tenha tudo que seu coração deseja. Na vida o homem corre atrás de três dádivas: ter filhos, ser rico, viver até uma idade avançada.

“O Todo-Poderoso já te acordou a riqueza e uma longa vida. Você não pode esperar também a terceira bênção, filhos.

“Entretanto, se você está convencido que prefere ter filhos, você deve estar pronto a renunciar a uma das outras duas dádivas”.

As palavras de Rabi Moshé-Guershon impressionaram profundamente Nachum. Isolou-se de todo o mundo, passou muitos dias estudando seu problema em silencio, esforçando-se para encontrar a resposta certa.

Finalmente saiu da sua reclusão e foi encontrar Rabi Moshé-Guershon dizendo-lhe que estava disposto a renunciar voluntariamente a uma das coisas que já possuía – a riqueza (seus negócios tinham prosperado de maneira extraordinária) ou a vida longa (já tinha mais de sessenta anos na época).

Quando Nachum informou a Rabi Moshé-Guershon a escolha que tinha feito, este lhe deu sua bênção desejando que seja feito de acordo com o desejo de Nachum.

Não tinha passado um ano desde a bênção do rabino e Débora notou um dia que estava esperando um filho, mas hesitava em dizê-lo ao marido. Estava preocupada com a idéia que a criança poderia ter a mesma sorte que as infelizes crianças do seu primeiro casamento.

Transcorridos três meses, Débora decidiu que não poderia esconder por mais tempo o fato de estar grávida e que seria bom dar a notícia ao marido.

Foi falar com ele com alegria, contou a boa nova, mas escondeu seus temores.

Ele também recebeu a notícia com muita alegria, embora isso significasse que ele morreria em breve. Ele lembrou que Rabi Moshé-Guershon lhe havia oferecido a escolha entre três dádivas: vida longa, riqueza ou uma criança.

Bem, seus negócios estavam mais prósperos do que nunca e eis que uma criança se anunciava, D’us seja louvado. Isso significava, evidentemente, que ele encontraria em breve o Dispensador da vida ou da morte.

Não disse nada à esposa que amava e à qual não queria causar tristeza, mas outra vez se retirou para seu antigo hábito, passando sua vida solitário, na oração, na contemplação e no estudo.

Nachum se retirou completamente da sociedade e dos seus semelhantes e consagrou todo seu tempo à “Teshuva”, preparando-se para deixar a vida aqui em baixo.

Ele enfraquecia cada vez mais; mas quando saia do quarto para ir ver Débora, procurava agir como se nada estivesse acontecendo.

Sua morte ocorreu rapidamente, para a grande pena da sua esposa amante e para a grande tristeza dos judeus de toda a comunidade de Vitebsk, que deploraram a morte deste grande personagem.

Quando a gravidez chegou a termo, Débora teve uma menina que chamou Nechama, pelo nome do seu marido Nachum.

Nos termos do seu testamento, a fortuna e os bens de Nachum foram divididos em três partes, a primeira destinada às obras de caridade, a segunda à esposa Débora, e a terceira à criança.

Ele também deixou uma carta lacrada que só deveria ser aberta no dia que seu filho alcançasse a idade de “Bar Mitsvá”, não antes.

Débora criou a filha como ela mesma o fora, dando-lhe mestres particulares para que possa instruir-se na Torá, como ela mesma era. Vigiava sua educação em geral para que se tornasse uma digna filha de Israel.

Durante este tempo, Débora continuava dirigindo os negócios do defunto marido com o mesmo sucesso que antes e distribuía esmolas generosamente.

Fazia agora vinte e cinco anos que tinha chegado a Vitebsk e tinha havido uma grande melhora da população judia da cidade, no sentido espiritual e cultural.

Tinha muitos mais Talmud Torá e o número dos estudantes da Ieshiva tinha crescido enormemente. A maioria vinha da própria cidade ou dos distritos vizinhos.

A cidade tinha também atraído um número bastante grande de sábios.

Entretanto, o que era notável era a incrível mudança que ocorreu entre as mulheres de Vitebsk! Agora todas eram capazes de “davenenn” (rezar), e com a ajuda do “Tseena-Ureena” e de outros “Techinot” em Idishe, tinham adquirido um conhecimento cada vez mais profundo sobre assuntos judaicos importantes.

Quando chegou a época do “Bar Mitsva” de Nechama, abriu-se a carta lacrada que seu pai havia deixado antes da sua morte e foi então que se tomou conhecimento que Nachum sabia que ao receber a graça de ter um filho para continuar seu nome depois dele, estava condenado a morrer.

A carta estipulava que Débora deveria instituir uma Ieshiva no nome do seu filho e que o custo da sua construção e da sua manutenção seriam retirados dos fundos de herança da criança.

Foi assim que em 5457 (1697), construiu-se uma Ieshiva na parte de Vitebsk conhecida como “o  lado Grande”, e foi chamada “a Ieshiva de Nechama, filha de Rabi Nachum Tevels”. As mulheres, em geral, a chamavam “a Ieshiva de Nechama, filha de Débora”, em homenagem à popularidade bem merecida da viúva Débora.

Entre os sábios famosos que vieram a Vitebsk em torno desta época, encontrava-se Rabi Simcha-Zelig, também conhecido como o “Gênio de Stavisk”.

Ele tinha passado dez anos na solidão para poder consagrar-se inteiramente e exclusivamente ao estudo da Torá.

Ele foi designado chefe da Ieshiva acima citada e em menos de dois anos, havia cento e trinta estudantes que assistiam aos cursos da mesma, o que era muito satisfatório, tendo em vista as circunstâncias.

Entretanto, Rabi Simcha-Zelig não ficou muito tempo à frente da Ieshiva, preferindo voltar à sua vida de solidão, consagrando todo seu tempo ao estudo da Torá.

Apesar da ascensão espiritual de Vitebsk, a cidade não podia ainda ser comparada com Minsk como centro de Torá, nem com Slutz ou Brisk e certamente não com Wilno, que era conhecida desde essa época como a capital do estudo da Torá.


Guemará - Primeira serpente

A PRIMEIRA SERPENTE

O MAU CAMINHO QUE É PRECISO EVITAR

 

Na décima Mishná do segundo capítulo de Avot, Rabi Elazar bem Arakh designa o mau coração como o mau caminho do qual o homem deve se afastar. A Escritura Sagrada diz que a formação (ou a inclinação) do coração humano é má desde a sua juventude.

Este é o mau caminho do qual o homem deve se afastar, o mau coração. Ao referir-se a ele o sábio rei Salomão disse: “O caminho dos maus os conduz às trevas, a ponto que eles não percebem mais aquilo que os faz tropeçar” (Provérbios, 4:19). Um homem assim não tem amor a D’us nem aos seus semelhantes. Ele só ama a si; e aliás não é a ele que ele ama mas unicamente à satisfação da sua ambição, da sua atividade, da sua sede de prazeres. Ele se acha o centro do mundo e não ama nem mesmo os mais próximos dele, que ele só ‘ama’ enquanto estes lhe proporcionam prazer e ele se aproveita deles. Ele finge amar seus parentes enquanto eles podem lhe outorgar benfeitorias; à sua mulher enquanto ela é a alegria dos seus olhos e seus filhos enquanto ainda lhe causam prazer; seus amigos enquanto pode aproveitar deles. O sábio rei Salomão nos esboçou este estado através de uma bela alegoria: “São como vasos de barro recobertos por um verniz prateado, é isso o que são lábios quentes de amor de um mau coração”(Provérbios, 26:23). Usando a escória que sobra quando se funde a prata, é possível obter uma massa brilhante e reluzente com a qual se faz uma prateação, que quando recobre um vaso de barro comum, este vai parecer prateado. Mas ao usá-lo, ele vai quebrar nas nossas mãos. Assim são as falsas promessas de amor de uma mau coração. Coitado de quem nelas acreditou; o que ele achou que fosse metal de verdade se reduziu logo a um monte de cacos sem valor.

 

A ambição ilícita (a procura de honrarias e de posições sem denominador comum com o valor do homem, com seus talentos ou seus esforços, ou com os serviços por ele prestados) figura entre os aspectos mais ignóbeis da natureza humana.

Essas pessoas são sempre medíocres, inúteis, e mais ainda: são pessoas daninhas que cultivam essa paixão. Aliás isso se explica. Elas têm um sentimento confuso que lhes é impossível entrar em competição com os homens de valor e de talento que servem à sociedade – pelo menos no seu terreno, o terreno das competições ilícitas. Elas sentem um ciúme intolerável deles, um sentimento de frustração e quase de injustiça: “Porque esse aí é mais capaz que eu?” Mas nunca se fazem a pergunta: “Porque esse trabalhou mais do que eu, para saber mais e para galgar as posições da dignidade humana?”

Portanto, sentindo-se frustrada, essa pessoa ataca com as armas dos medíocres: a astúcia ou a violência, ou as duas reunidas. Incapaz de elevar-se para o nível de quem a ultrapassa, ela só tem uma meta: fazer cair aquele que está num degrau de valor superior; rebaixá-lo, humilhá-lo, sujá-lo.

 

É preciso reconhecer que o homem superior é também, para este tipo de ambicioso, um obstáculo. Será que este tipo não lembra a serpente da época da Eva? A serpente era o mais astuto dos animais antes do homem aparecer; mas este resultou ser mais inteligente. Se não fosse o homem, ela seria a coroa da Criação, assim imaginava. É dessa maneira que o agressivo medíocre raciocina.

É isso o que nos mostra a Torá quando nos conta a história do odioso Corach e das suas intrigas contra Moshé e contra Aharão. Pelo menos ele teve o fim odioso que merecia, sem ter obtido sucesso na sua obra de subversão.

Porém não foi o único a morrer. Aqueles que ele havia envolvido morreram com ele.

Excelente exemplo para todos aqueles que ouvem voluntariamente o chamado tentador das intrigas do submundo.

A honra vem para aqueles que a merecem e só tem valor numa sociedade em que essa palavra, honra, faz sentido, enquanto não tem nenhum no seio de um grupo social em que “as honras” (que não se devem confundir com a Honra) são adjudicadas à força de murros e da perfídia.


 


 

MULHER INFIEL

 

 

A SOTA

O procedimento a ser seguido quando um marido suspeito que sua mulher é adúltera

 

Quando um marido advertiu a esposa: “Não fica isolada com tal homem”, e se duas testemunhas observam depois que ela se isolou com esse mesmo homem (por um período de tempo suficiente para que ela tenha podido se manchar), ela se torna proibida para seu marido até que as leis da sota lhe tenha sido aplicadas. Entretanto, se uma testemunha, mesmo que única, possa certificar que ela realmente cometeu o adultério, não se procederá ao teste da sota; ela se torna proibida para seu marido de forma permanente.

 

Alguns pecados não permitem nenhuma reparação. O Rei Shlomo os descreve assim: “Uma coisa torta não pode ser endireitada”(Cohelet 1:15). Um desses pecados é o adultério.

A maioria das transgressões pode ser retificada. Por exemplo, pode se devolver o dinheiro roubado. Pode se libertar uma pessoa seqüestrada. Mas não existe nenhuma reparação para o pecado de adultério. Mesmo quando a adúltero se lamenta posteriormente do seu ato, não há nenhum meio de fazer com que a esposa seja permitida para seu marido.

 

Qual é o significado do termo hebraico sota que a Torá utiliza para descrever uma mulher suspeita de infedilidade?

1 – “Sota” tem a conotação de “maluca”. Esta palavra deriva da raiz shtut/loucura.

Esta mulher não levou suficientemente em consideração as conseqüências da sua conduta. Ela foi levada por sua paixão ou por seu desejo. Se ela tivesse tido sabedoria, seu temor a Hashem teria prevalecido sobre seu Ietser Hará (a inclinação para o mal). Ela teria resistido, seja por temor de cometer o pecado, seja por medo do castigo.

Mas ela preferiu gratificar loucamente um desejo passageiro, sem escutar o seu sentido comum que lhe dizia que este ato era pecador e só lhe traria sofrimento.

Da mesma maneira, aquele que peca é “um louco”, já que ele deixa sua imaginação, seu capricho ou seu desejo prevalecerem sobre sua consciência.

2 – A palavra Sota também quer dizer: “desviar, desencaminhar”.

O povo Judeu se comporta com Quedusha (santidade), e com tsniut (reserva, recato) ímpares entre as nações do mundo.

Uma mulher que se comporta de maneira que seu esposo suspeite da sua infidelidade se desviou das vias do povo judeu. Ela adotou a maneira de viver da sociedade não judia. É desse modo que ela se tornou sota, uma mulher que se desviou do caminho da Torá.

 

Se duas testemunhas confirmavam que uma mulher tinha se tornado sota por ter se isolado com um homem contra o qual o seu marido a havia prevenido, o marido podia repudiá-la se ele o quisesse. Se não, ele devia apresentar o caso ao Beit Din (Tribunal Rabínico) local. Se o Beit Din confirmava o relatório das testemunhas mas a mulher afirmava ser pura e desejar tomar as águas da sota, transferia-se o caso para o Grande Sanhedrin (a Corte Suprema judia, composta por setenta e um juizes, que se reunia numa sala especial do Beit Hamicdash).

Os juizes do Sanhedrin tentavam convencer a mulher a confessar o pecado para não proceder sem necessidade ao teste da sota.

Eles se reuniam com ela em separado e usavam todo tipo de argumento e de meios de persuasão para que ela reconheça a verdade ou se recuse a tomar as águas.

“Sabemos, diziam, por exemplo, que muitas pessoas perdem o equilíbrio sob a influência do vinho, de maus vizinhos ou se são dominado por um humor leviano. Se isso aconteceu com você, confessa.

Não nos obriga a apagar o Grande e Santo Nome quando preparamos as águas amargas, pelas quais se testa a sota.

Outros maiores que você foram seduzidos por seu ietser hará. Recorda que um tsadic da envergadura de Iehuda confessou publicamente no caso de Tamar; e Reuven reconheceu seu erro com respeito a Bilha. Sua confissão lhes valeu a vida eterna. Aprende com esses grandes e admite teu pecado!”

Se a mulher confessava que se havia manchado, diziam-lhe para se separar do marido e o assunto era encerrado.

Mas se ela persistia afirmando sua pureza ela era conduzida para a porta leste da Azara, a Porta de Nicanor, pela qual se acedia à Azara, de modo que todos os que entravam pudessem vê-la.

Antes de começar o ritual, ela tinha que dar umas voltas em torno do Monte do Templo de modo que o procedimento fosse artificialmente prolongado. Esperava-se que, cedendo ao esgotamento, ela confessasse o pecado.

Não admitindo a culpa, ela era colocada frente à porta leste, fora da Azara e se dava inicio ao procedimento da sota.

 

Conjura-se e humilha-se a sota

 

Agora, ela era exposta aos olhos de todos já que na Azara havia muitas mulheres. Era para elas uma mitsva (lei divina) assistir já que o destino da sota lhes servia de advertência.

O Cohen (sacerdote) a conjurava com um juramento que compreendia uma maldição. Ele fazia a introdução do juramento com as palavras seguintes: “Você está a ponto de tomar as águas amargas da sota, cuja virtude é milagreira. Se você está pura, não será afetada por este juramento e as águas não te farão nenhum mal. Mas se outro homem te manchou, a água fará seu ventre inchar e explodir. Tuas coxas, depois todos os teus membros, se soltaram do corpo. A mesma coisa acontecerá com aquele que cometeu o adultério com você.

Teu nome será então uma maldição em todos os lábios. As pessoas se amaldiçoarão umas às outras com essas palavras: ‘Que teu fim seja semelhante ao da mulher de fulano’, e jurarão dizendo: ‘Se menti, possa eu perecer como a mulher de tal’.”

A sota confirmava o juramento respondendo duas vezes “amen, (que assim seja)”  Este duplo amen significava: “Amen, o homem contra quem meu esposo me advertiu jamais me manchou. Amen, eu não fui manchada por nenhum outro homem.”

O duplo amen significava também que assim como ela não havia sido nunca manchada no passado ela não se deixaria sujar no futuro.

O cohen trazia então um pergaminho e escrevia no mesmo o texto da Tora que enuncia o juramento que ele acabava de fazer. (Ele escrevia os versículos 5:19-22, incluindo o juramento e a maldição mas excluindo as frases “e o cohen fará com que a mulher faça o juramento”, “e o cohen dirá à mulher”, “e a mulher responderá: ‘amen, amen!’”). Ele escrevia esse documento como se escreve um Sefer Tora mas com uma tinta delével, e escrevia o Nome de Hashem (D’us) de quatro letras com todas as letras, que apareciam duas vezes no texto (5:21).

Ele trazia então um vaso de argila novo, o enchia com água tirada do quior (pia de abluções), borrifando-a com pó tirado do chão do Santuário; depois acrescentava à mesma uma erva amarga: a água se convertia assim em “águas amargas”. Ele mergulhava então o documento nas águas até que não subsista nenhum vestígio das letras.

Qual o sentido simbólico dos diferentes aspectos deste cerimonial?

 

• Utilizava uma cuba de argila:

1 - Para recordar à pecadora que ela havia oferecido bebidas ao adúltero em belas taças. Midda quenegued mida (medida por medida), apresentavam-se as águas da sota num simples recipiente feito de terra.

Ao utilizar um utensílio feito de terra, se testemunhava a compaixão de Hashem que se estende inclusive à sota.

2 - Após a cerimonia, o utensílio era quebrado e o ato da mulher esquecido. Se o recipiente fosse de metal, seria inquebrável, e teria ficado intacto recordando assim a todos e para sempre a lembrança dessa sota.

 

• A água provinha do quior, a cuba de ablução.

No Mishcan (Tabernáculo), a cuba destinada às abluções foi construída graças à doação pessoal dos espelhos das mulheres piedosas que haviam saído do Egito. O Quior devia recordar à sota que apesar das mulheres judias terem vivido entre os egípcios, impuros, elas tinham se mantido puras. Como podia ela então, depois de ter crescido num ambiente de pureza, deixar-se ir ao ponto de manchar-se?

 

• Porque se misturava pó à água?

1 – Isso fazia alusão ao fato de que se a sota era inocente, ela era recompensada pela humilhação sofrida. O Todo-Poderoso lhe prometia tornar-se mãe de um filho excepcional, da dimensão de Avraham, que se descrevia a si mesmo como poeira e cinza. Por outro lado, se ela fosse impura, devia voltar ao pó.

2 – A sota era castigada mida quenegued mida (medida por medida). Ela havia consumido manjares delicados na companhia do adúltero. Em compensação devia agora engolir um líquido com gosto de poeira.

 

• Porque o Grande Nome do Todo-Poderoso era apagado na água?

É proibido apagar o Nome de Hashem. Entretanto, o caso da Sota é uma exceção para demostrar o quanto é importante restabelecer a paz entre os esposos. Se a discórdia os separa, Hashem considera que vale a pena apagar Seu Grande e Santo Nome se não há outro meio de reconciliá-los.

 

Nem sempre é possível restabelecer a harmonia entre os esposos. Mas um casal pode e deve fazer todos os esforços para que a paz reine no seu próprio lar.

 

A parte seguinte da cerimonia era a desgraça pública da sota.

Ela tinha se embelezado com intenções pecaminosas; daqui em diante ela era desfigurada.

Um cohen se adiantava e rasgava a parte alta das sua roupas. Se ela estava com jóias ou outro enfeite qualquer, eles lhe eram tirados.

O cohen devia então descobrir a sua cabeleira para humilhá-la.

Ele poderia recusar-se a descobrir uma cabeleira feminina. Mas então lhe perguntavam: “Consideras tua dignidade superior à do Todo-Poderoso?”

 

Da mesma maneira, o cohen não devia hesitar em fazer essa mitsva,

Sua grandeza não era superior à do Todo-Poderoso que, para restabelecer a paz entre um casal, tinha ordenado que o santo lugar do Santuário onde Sua presença reside, seja desgraçado por um mulher com a cabeça descoberta.

Porque se descobria a cabeleira da sota?

Dizia-se a ela: “Uma mulher judia não deve aparecer em público com a cabeça descoberta (Quetuvot 72a). Você se afastou dos caminhos das meninas do teu povo para agir como uma mulher não judia. Agora, você recebe o que você quis – tua aparência será a de uma mulher não judia.”

A cabeça dela também era descoberta como justo castigo mida quenegued mida. Ela havia se desnudado em segredo para o adúltero e agora ela era descoberta em público. Ela a tinha ornamentado para ele, secretamente, e agora ela aparecia descabelada em público.

 

Depois de rasgar a roupa da sota, trazia-se uma corda cujas fibras provinham do Egito e se enrolava a sota com ela para que suas roupas não caíssem.

Porque a corda devia provir do Egito?

Isso faz alusão à imitação dos atos imorais praticados no Egito.

 

Resumindo as leis da sota, vemos que todas constituem uma retribuição medida contra medida pelos seus pecados.

-         Pecando ela tinha ridiculizado a honra do Todo-Poderoso e a do seu marido; então sua dignidade era também ignorada.

-         Ela tinha se exibido diante do adúltero para encontrar graça aos seus olhos; ela devia se exibir diante de todo mundo , e todos eram testemunhas da sua desgraça.

-         Ela tinha embelezado o rosto. Então as águas amargas a empalideciam.

-         Ela tinha maquiado seus olhos; as águas amargas fazia com eles que eles saltassem para fora.

-         Ela tinha feito tranças nos cabelos; daqui em diante ficaria descabelada.

-         Ela havia exposto suas unhas pintadas; as águas também as fazia cair.

-         Ela tinha usado um cinto luxuoso; agora sua cintura era atada com uma grosseira corda do Egito.

-         Ela havia pecado com seus membros; então eles se destacavam do seu corpo.

-         Ela havia oferecido ao adúltero pratos deliciosos; sua oferenda era feita de cevada.

-         Ela tinha lhe oferecido vinho doce em bonitas taças; agora tomava as águas amargas num recipiente de terra.

-         Ela havia ocultado suas ações; ela se tornavam públicas.

Quando finalmente as águas amargas produziam seu efeito, ficava claramente demostrado que ninguém pode escapar do olhar do Todo Poderoso.

 

Seu sofrimento mida quenegued mida, preciso até o mais mínimo detalhe, provava que a providencia divina retribui cada um de acordo com seus atos.

 

Na verdade, todos esses atos, aparentemente desprovidos de qualquer misericórdia, testemunhavam uma bondade com respeito a ela. Cada detalhe da sua humilhação pública e do seu sofrimento espiavam um aspecto do seu pecado. O sofrimento infinitamente mais grave do mundo vindouro lhe era evitado.

 

Minchat sota/ A oferenda particular em favor da sota

 

O cohen preparava a oferenda de mincha da sota, para a qual seu marido doara farinha de cevada.

Esta mincha diferia em quatro pontos das oferendas de mincha habituais:

 

1 – Utilizava-se farinha de cevada e não de trigo.

Qual a razão disso? A sota havia cometido um ato bestial, Mida quenegued mida, sua oferenda provinha de um cereal que se da como forragem aos animais.

Por outro lado, como ela havia oferecido ao adúltero pratos finos, seu corban seria constituído de cevada.

 

2 – Era quemach, um tipo de farinha cuja qualidade não é suficientemente boa para que se faça com ela pão.

 

3 – Esta mincha não era amassada com azeite e não se acrescentava azeite à mincha, como nas outras oferendas de mincha.

Porque? O azeite, com o qual se acende as lâmpadas, representa a luz espiritual. Mas esta mulher tinha andado na escuridão.

 

4 – Não se espalhava levona (incenso) sobre esta mincha, como era habitual fazer, quando qualquer oferenda de mincha era salpicado com levona. A ausência de incenso lembrava que a sota tinha abandonado o sendeiro da tsniut, o “odor agradável” que distingue o povo judeu.

Mais profundamente, nossas matriarcas Sara, Rivca, Rachel e Lea, de uma pureza e de uma decência perfeitas, são comparadas ao Quetoret, as especiarias aromáticas. A oferenda da sota está desprovida de quetoret por que ela se havia desviado das vias das nossas mães.

 

Porque a sota devia oferecer um corban?

Esta oferenda trazia a expiação do seu marido. Ele também era culpado por não ter repreendido suficientemente a mulher quando observou sua falta de tsniut. Ele havia sido negligente no assunto e por seu erro o Grande e Santo Nome tinha sido apagado.

A Torá previne o esposo judeu: “Se você observa tua mulher se desviando dos sendeiros da tsniut, seja um homem! Não negligencie o assunto: toma as medidas.”

 

O milagre das águas amargas

 

Em última instância, as águas lhe eram oferecidas para que as beba.

Se ela, assustada, recusava-se a tomar, ela era estimulada com essas palavras: “Minha filha, não hesita, bebe essas águas. Elas só fazem mal a quem pecou. Se você está pura, elas não te prejudicarão de maneira alguma.”

Se ela persistia recusando e proclamando sua pureza, ela era obrigada a engolir a água já que o Nome de Hashem tinha sido apagado nas mesmas.

Depois de beber, o cohen procedia ao balanço da oferenda (tenufa). Colocando sua mão sob a mão da mulher, ele balançava o recipiente contendo a mincha de frente para trás e depois de cima para baixo, como se faz com as Quatro Espécies em Sucot (festa das Cabanas). Consumia-se então uma punhado de mincha sobre o Mizbeach (altar) e o resto era dado aos cohanim.

Se a mulher era culpada, as águas amargas produziam instantaneamente seu feito. Seu rosto empalidecia visivelmente (mida quenegued mida, já que ela tinha se maquiado com fins pecaminosos). Seus olhos ficavam protuberantes (como castigo por tê-los enfeitado para o pecado), e assim acontecia com todas as veias do seu corpo.

“Tirem-na daqui! Ordenavam os cohanim, antes que ela manche a Azara.”

O ventre da sota inchava, depois suas coxas. Ela se desmembrava e morria.

As águas amargas exerciam simultaneamente seu castigo sobre o adúltero. Desde o momento que começavam a afetar a mulher, sintomas idênticos se manifestavam nele, onde ele estivesse. Milagrosamente, ele sofria e morria no mesmo momento.

Nem toda sota morria imediatamente depois de beber as águas. Se ela tivesse estimulado no passado o marido e os filhos a estudarem Tora, seu mérito a protegia de uma morte imediata. Embora os sintomas da sota aparecessem no seu corpo, desfigurando-a e provocando seu sofrimento físico, ela pelo menos não morria. De acordo com a grandeza do seu mérito, ela podia sobreviver dois a três anos. Ela morria então com os sofrimentos horríveis da sota; seu ventre inchava e ela se desmembrava.

 

Como o teste da sota afetava uma mulher pura?

Com respeito a essa mulher, as águas tinham o efeito de uma poção que aliviava e curava. Seus membros adquiriam vigor, seu rosto brilhava. Se antes ela tivesse sofrido de uma doença, ela ficava curada.

Se ela era estéril, doravante poderia ter filhos.

Se só tivesse tido filhas, lhe eram prometidos filhos.

Se tinha tido partos difíceis, dali em diante teria partos fáceis.

Por outro lado, a Torá lhe prometia ter um filho justo, um ser excepcional.



Os Profetas - Amos

A HISTÓRIA DE AMOS

 

 

Amos

Na aldeia de Tecoa, no sul de Jerusalém, vivia um pastor chamado Amos. Ele tomava conta dos seus carneiros nos campos rochosos das colinas ... Era um lugar selvagem e desértico. Tudo que Amos via ao seu redor o fazia pensar em D'us. As altas montanhas, os ventos, as tempestades que escureciam subitamente o céu: D'us havia feito isso tudo.

Pela noite, Amos se envolvia no seu grosseiro manto e se esticava no chão, entre seus carneiros. Acima da sua cabeça, as estrelas se deslocavam lentamente nos céus.

"D'us criou as estrelas", pensava Amos. "É Ele que transforma a noite preta em manhã."

Em certas épocas, Amos descia para trabalhar no vale, nas plantações de sycomorus (figueiras). Nestas árvores crescia uma espécie de figo, apreciado pelos pobres. Os frutos eram pequenos mas muito doces e abundantes.

Era freqüente Amos ver passar ao longe, enquanto trabalhava, longas fileiras de camelos transportando comerciantes com suas mercadorias. Por vezes, para encher de água seus jarros, os condutores iam para o bosque onde Amos se encontrava. Falavam dos países longínquos de onde vinham, de reis e de guerras, de esplêndidas cidades e de ricas mercadorias que seus mestres transportavam: ouro, marfim, especiarias. Quando voltava aos seus carneiros, Amos ficava com a cabeça repleta com essas maravilhas.

"Esses países e essa gente, pensava, são todos governados por D'us. Os povos talvez não o saibam, mas o Eterno é também o D'us deles, já que Ele é D'us de toda a terra".

Num dia de primavera, após ter feito a tosquia dos seus carneiros, Amos partiu para Bet El vender sua lã no mercado. Você deve certamente recordar que Bet El é o local em que Iaacov sonhou com a escada que se elevava até o Céu. Mas isso ocorreu muito, muito tempo antes do nascimento de Amos.

Bet El tinha se tornado uma grande cidade, com ruas animadas, mercados e templos.

Amos passeava nas ruas congestionadas: percebia tudo com seus olhos penetrantes, enquanto ouvia as conversas. Vendedores de escravos de rosto cruel falavam de guerras no norte. Elegantes damas se demoravam diante das barracas e compravam fitas, brincos e perfumes. Anéis de ouro ressoavam nos seus calcanhares. Mas onde quer que fosse, viam-se ao redor mulheres e crianças descalças e esfarrapadas.

Empregados transportavam carneiros inteiros, prontos para serem assados nas casas grandes, enquanto no mercado, os pobres mendigavam um pedaço de pão para alimentar suas famílias.

Amos percebeu também que os vendedores roubavam os pobres coitados e a cólera o invadiu.

"Tua balança está com defeito", gritou para um dos vendedores. "Você não está dando o peso certo e você está cobrando caro demais!"

Virando-se para o pobre homem que acabava de ser roubado, ele lhe disse: "Então, porque não vai se queixar diante dos Juizes."

"Os Juizes não nos ouvem", respondeu este homem, "eles aceitam suborno dos ricos."

Amos vendeu a lã e voltou para sua aldeia. Mas não conseguiu esquecer tudo o que havia visto. Com freqüência, pela manhã, quando saía com seus carneiros, se detinha no alto de uma colina e olhava para o vale. Ele podia ver, lá longe, o Mar Morto brilhando ao sol. As cidades de Sodoma e Gomorra se erguiam, antanho, naquele mesmo lugar; mas D'us as havia destruído, por causa da sua maldade.

E Amos se dizia: "Se as cidades de Israel não pararem de fazer o mal, D'us vai também destrui-las."

Foi então que Amos ouviu a voz de D'us falando com ele:

"Deixa teu gado e vai para Bet El, na Samária, e para todas as outras cidades de Israel. você dirá ao povo tudo o que Eu te ordene dizer."

 

Odeiem o Mal e amem o Bem

Amos encontrava-se de novo no mesmo lugar do mercado, no meio da multidão. Desta vez era na Samária,, a cidade onde havia vivido Achab. As pessoas estavam agitadas, ocupadas com seus afazeres.

De repente, Amos começou a gritar bem alto: "O castigo se abaterá sobre Damasco. Devido à crueldade do seu povo, D'us não revogará Seu decreto. O castigo se abaterá sobre os Filisteus! O castigo se abaterá sobre Edom e Moav!"

As pessoas se detinham e ouviam com interesse, já que Damasco, Edom e Moav eram os velhos inimigos de Israel.

Só que agora, Amos gritava: "O castigo cairá sobre vocês, homens de Israel ... vocês, que oprimem os pobres, vocês que impedem os fracos de contarem com a justiça."

As pessoas já não estavam mais contentes: que um estrangeiro se lance contra seus inimigos, era muito bom; mas não admitiam que o estrangeiro profetize contra eles.

Alguém da multidão gritou: "Não ouçam esse "estraga prazeres". Será que D'us aceitará que Seu povo esteja na desgraça?"

"Todos os povos pertencem a D'us", respondeu Amos, "Foi Ele que tirou os Filhos de Israel do Egito. Foi Ele também que tirou os damasquinos e os filisteus do país onde eram escravos. Homens de Israel, vocês realmente querem ser o povo de D'us? Então odeiem o Mal e amem o Bem!"

Da Samária, Amos se dirigiu a Bet El. Era um dia de festa e os pátios do templo estavam repletos de gente. Ricos e pobres tinham vindo trazer suas oferendas. Músicos tocavam a harpa e a lira.

Amos subiu nos degraus do templo, e entoou um canto triste, um canto de lamento. Sua voz lúgubre se elevava acima das conversas, da música e dos balidos dos cordeiros. As pessoas, estupefatas, se viravam em direção a Amos. Quem era este estrangeiro que ousava cantar um canto fúnebre no templo? Para quem estava fazendo luto? Ouviram suas palavras.

"Ela caiu

para não mais se levantar,

A filha de Israel."

Mas então era para eles que este estrangeiro se lamentava dessa maneira!

Agora a multidão estava em volta de Amos, e ele parou de cantar.

"Uma nação do norte está em marcha para exterminá-los", disse, "este templo não será mais que um monte de ruínas."

E, apontando para os altares onde os sacerdotes sacrificavam jovens touros e cordeiros, Amos acrescentou: "Não pensem que D'us salvará vocês só porque Lhe oferecem sacrifícios. D'us lhes diz: "Eu odeio, Eu desprezo vossas festas. Não aceitarei vossas oferendas, porque vocês fazem os inocentes sofrerem, aceitam subornos, e se desviam dos necessitados!"

O sumo-sacerdote, nas suas vestimentas esplendorosas, correu para Amos.

"Pedaço de sonhador, disse-lhe, volta para o país de Iehudá, de onde você veio. Se você precisa profetizar para ganhar a vida, faz isso na tua terra e não vem a Bet El fazer-nos ouvir essas coisas sórdidas. Aqui é o templo do rei, é uma casa real."

"Eu não sou um profeta que fala por dinheiro", respondeu Amos. "Eu sou um pastor e me ocupo também da madeira de "sycomorus". Foi o Eterno que me tirou dos meus carneiros e me disse: "Vai profetizar para meu povo de Israel!" E tu, Sumo-sacerdote, tu me dizes: "Não profetiza contra Israel." Mas se foi D'us que disse: "Israel será levado cativo, para bem longe da sua terra natal!"

Depois de pronunciar estas palavras, Amos se virou para os sacerdotes e deixou o templo. Algumas pessoas, perturbadas com suas palavras, o seguiram.

Uma delas lhe perguntou: "Porque falas tão duramente do povo de Israel? Não somos piores que nossos vizinhos.

Amos lhe respondeu com severidade: "Você acha que é suficiente para Israel não ser pior? Será para isso que D'us nos tirou do Egito e nos deu Seus mandamentos? D'us disse: Apenas a vocês, entre todos os povos da terra, Eu me dei a conhecer. É por isso que vocês, mais do que todos os outros, devem respeitar Meus mandamentos."

As pessoas então lhe perguntaram: "O, profeta, diga então o que devemos fazer!"

A voz de Amos era doce quando respondeu:

"Façam com que o bom direito flua como água e a justiça como um rio que não seca para que D'us possa ainda salvar Israel."

Depois disso, Amos voltou a cuidar do seu gado no país de Iehudá e nunca mais profetizou em Israel, Mas D'us enviou outros profetas para levarem a Sua palavra ao Seu povo.


 

Os Profetas - Eliahu Hanavi


 

A HISTÓRIA DO PROFETA ELIAHU

 

Um rei, uma rainha e um profeta

 

No país de Israel vivia um rei chamado Achab. Achab desagradava o Eterno mais que todos os outros reis antes dele. E sua mulher era ainda pior que ele. Era uma princesa de um país vizinho, onde se servia a Baal e não a D’us. Seu nome era Jezabel.

Ela conseguia sempre obter tudo que desejava.

Agora ela queria que todo o povo de Israel adorasse Baal, como ela.

“Constrói um belo templo em honra ao meu deus Baal” disse ela a Achab.

E Achab, para agradar à rainha, mandou construir o templo.

“Entra comigo no templo”, disse Jezabel.

E o rei Achab entrou, e se ajoelhou diante de Baal.

“Um templo de Baal deve ter sacerdotes”, disse também Jezabel.

O rei Achab permitiu-lhe mandar buscar da sua antiga pátria um milhar de sacerdotes de Baal.

Quatrocentos e cinqüenta deles comiam na mesa da rainha. Muito pronto já havia altares de Baal no alto de cada uma das colinas do país. Os agricultores judeus do vale escutavam bater com os pés, gritar e rir de maneira selvagem. Subiram em direção aos altares para ver o que estava acontecendo. Muitos voltavam para levar sacrifícios a Baal, dizendo “podemos servir D’us e Baal ao mesmo tempo”.

A rainha Jezabel estava muito contente.

“Logo logo será Baal e não o Eterno D’us que será o deus de Israel”, dizia.

Mas Jezabel havia esquecido dos profetas. Os profetas, vocês lembram, eram homens que D’us havia escolhido como mensageiros. Percorriam o país, de uma ponta à outra, ensinando ao povo como viver de acordo com a vontade de D’us. Os profetas sabiam que não se podia servir simultaneamente D’us e Baal. D’us pede que os homens se amem entre eles, e que façam o que é justo e bom, enquanto os sacerdotes de Baal ensinavam a imoralidade e a crueldade.

Os profetas comprometeram o povo de Israel a não subir aos altares de Baal.

Furiosa, Jezabel mandou chamar seus soldados e ordenou-lhes: “Procurem em toda parte os profetas de D’us e matem-nos todos. – Que nenhum deles escape.”

Centenas de profetas foram então exterminados.

Alguns fugiram para fora do país, outros se esconderam em grutas. Mas havia um que se recusava a calar. Este profeta se chamava Eliahu.

 

Não haverá chuva

 

O rei Achab encontrou o profeta Eliahu pela primeira vez pouco depois da massacre dos profetas do Eterno.

Ele estava visitando o capitão do seu exército, quando de repente, um estranho surgiu diante dele. O homem vestia a roupa dos profetas, um manto grosseiro de pele de carneiro. Seus cabelos eram longos, seu olhar severo.

“O Eterno, D’us de Israel, mandou-me até você”, disse o estrangeiro. “Tão verdade quanto o Eterno está vivo, não haverá neste país nem chuva nem orvalho, até que eu dê a ordem.”

Antes do rei poder pronunciar uma só palavra, o homem havia desaparecido. Perturbado, o rei perguntou aos servidores quem era aquele homem.

“É Eliahu”, responderam. “É um profeta do Eterno que mora em Galaad, do outro lado do Jordão.”

Achab tentou esquecer o que Eliahu havia previsto. Mas chegou a época das primeiras chuvas e nenhuma gota de água caiu. A época das segundas chuvas chegou, e o céu continuava claro, sem uma nuvem sequer. A terra estava secando e a grama murchava.

Achab mandou mensageiros à procura de Eliahu. Percorreram o país em todos os sentidos, interrogando todo mundo. Perto do Jordão ouviram falar do profeta.

Alguém disse: “Eliahu se esconde na gruta, nas montanhas de Galaad”.

Outro acrescentou: “O Eterno ordenou aos passarinhos que o alimentem. Pela manhã e à noite, corvos lhe trazem pão e carne”.

Os enviados do rei atravessaram o Jordão. Eles revistaram as montanhas selvagens e devastadas de Galaad. Revistaram também todas as regiões dos arredores. Mas não puderam descobrir Eliahu.

 

O grande teste

 

Passaram três anos e ainda não havia chovido. O rei Achab mandou chamar Obadia, seu mordomo, e lhe disse:

“Vem, percorramos o país, visitemos todas as fontes e todos os riachos. Pode ser que encontremos um pouco de capim para que os cavalos, as mulas e o que sobrou do gado não morram.”

Foram para a estrada, cada um numa direção diferente. De repente Eliahu apareceu diante de Obadia.

Obadia havia sempre servido o Eterno. Quando Jezabel quis exterminar os profetas, ele tinha escondido uma centena nas grutas e tinha levado para eles pão e água. Prosternou-se diante do profeta, até o chão.

-         “É você, meu senhor Eliahu?” perguntou.

-         - “Sou eu,” respondeu Eliahu. “Vai e diz ao teu mestre: ‘Eliahu esta aqui’.”

Mas Obadia temeu dar ao rei esta notícia. “Quando eu tiver partido, você vai desaparecer, como já fez tantas outras vezes. Se Achab vier e não te encontrar, ele certamente me matará.” –

Eliahu respondeu: “Tão verdade quanto o Eterno está vivo, eu me apresentarei hoje mesmo diante do rei.”

Obadia correu ao encontro de Achab para contar-lhe tudo isso. Voltaram juntos e encontraram Eliahu esperando-os.

“É você que está perturbando Israel?” disse o rei Achab.

“- Não fui eu que criei os problemas para Israel, respondeu Eliahu, e sim você, ao abandonar os mandamentos do Eterno e ao seguir o culto de Baal.”

Depois Eliahu ordenou ao rei reunir no monte Carmel os chefes dos judeus e os quatrocentos e cinqüenta sacerdotes de Baal. O rei Achab não ousou negar esse pedido. Portanto reuniu a todos ali. Os judeus estavam de um lado e os sacerdotes de Baal do outro. Entre eles estava Eliahu.

Voltando-se para os homens do seu povo, ele gritou:

“Até quando vocês vão ficar pulando de uma opinião à outra? Se o Eterno é D’us, sigam-No. – Se é Baal, sigam Baal.”

O povo não respondeu.

Eliahu continuou então: “Eu sou o único que ficou de todos os profetas do Eterno, e os sacerdotes de Baal são quatrocentos e cinqüenta. Vamos fazer um teste.”

Ele se voltou para os sacerdotes de Baal.

“Preparem um jovem touro para o sacrifício, disse-lhes; coloquem-no sobre a madeira do vosso altar mas não ateem fogo. Eu farei a mesma coisa. Depois, invocai o nome de vossos deuses e eu, invocarei o nome do Eterno. O deus que enviar o fogo do céu para consumir a oferenda, este é o D’us verdadeiro.”

O povo todo gritou: “É isso mesmo. Está bem falado.”

Os sacerdotes de Baal colocaram, então, o seu sacrifício no altar, sem atear fogo, depois começaram a invocar o nome de Baal.

“O! Baal, responde-nos! O! Baal, responde-nos”, gritaram, dançando ao redor do altar. Da manhã até o meio dia, gritaram assim. Mas não houve resposta.

Ao meio dia, Eliahu debochou deles: “Gritem mais forte, disse, o deus de vocês está certamente ocupado, ou está caçando, ou viajando. Ou será que ele está dormindo e precisa acordá-lo?”

Os sacerdotes gritaram ainda mais forte e, de acordo com seu costume, se flagelaram o corpo com facas e espadas até o sangue fluir. Pulavam por cima do altar gritando sempre: “O! Baal, responde-nos!”

Mas as horas passavam, a noite estava próxima, e eles ainda não haviam obtido nenhuma resposta.

 

Eliahu disse então ao povo: “Aproximem-se de mim”. E o povo se aproximou. Ele tomou doze pedras, uma para cada tribo de Israel, e consertou o altar de D’us que havia sido destruído. Cavou um fosso ao redor dele. Preparou o touro e o colocou sobre a madeira amontoada sobre o altar.

“Encham quatro jarras com água, disse ao povo e derramem-na sobre a oferenda e sobre o altar.”

Quando terminaram, ele lhes disse: “Façam isso outra vez.”

E o fizeram uma segunda vez, depois uma terceira, até que a água escorreu do altar e encheu o próprio fosso.

Eliahu começou então a rezar: “O! Eterno, D’us de Avraham, de Itschac e de Israel, que o povo saiba hoje que Tu es o Único D’us. Responde-me, O! D’us, responde-me para que os corações do povo voltem para Ti.”

Apenas terminou esta oração, desceu um fogo do céu sobre o altar, consumindo a oferenda, a madeira, as pedras e a poeira. E absorveu também toda a água do fosso.

O povo viu tudo isso e se prosternou até o chão exclamando:

“O Eterno é D’us! É o Eterno que é D’us!” Eliahu subiu então no alto da montanha, acompanhado pelo seu jovem ajudante e disse a este:

“Vai olhar do lado do mar.”

Enquanto o rapaz olhava, Eliahu colocou a cabeça entre os joelhos e rezou.

O servidor voltou e lhe disse: “Não vejo nada”.

-         “Olha mais”, disse Eliahu.

Sete vezes Eliahu mandou o rapaz de volta. Na sétima vez, o menino voltou e lhe disse:

“Uma nuvem, pequena como a palma da mão, se eleva sobre o mar.”

Eliahu lhe ordenou então: “Vai dizer ao rei Achab: ‘sobe na tua carruagem e desce o mais rápido possível para que a chuva não te detenha’.”

O rapaz saiu correndo, seguido por seu mestre.

A pequena nuvem tinha crescido e o céu estava todo coberto.

Achab subiu na carruagem e partiu em direção à planície. Eliahu correu diante da carruagem do rei por todo o caminho, até as portas da cidade, e a chuva já caía a cântaros.

Quando Jezabel soube o que tinha acontecido com seus sacerdotes, empalideceu de ira. Mas levantou-se e mandou essa mensagem a Eliahu: “Tão certo como você é Eliahu e que eu sou Jezabel, amanhã, a esta hora, você será um homem morto.”

 

Eliahu fugiu para salvar sua vida.

 

 

 

Uma voz pequenina

 

Eliahu fugiu para o Sul, no país de Iehudá. No deserto onde se encontrava, sentou sob uma árvore para descansar um pouco.

“O! Eterno, suplicou, basta já. Deixa eu morrer, por favor!”

Enfraquecido pela fome e pela sede, por que não pudera carregar nenhum alimento, deitou sob a árvore e adormeceu.

De repente sentiu que o tocavam e ouviu uma voz dizendo-lhe: “Levanta e come.”

Abriu os olhos e viu, perto da sua cabeça, um bolo cozido sobre pedras quentes, e uma jarra de água. Levantou-se e comeu e bebeu. Com a força dessa refeição, Eliahu andou durante quarenta dias e quarenta noites pelo deserto, até o monte Horev. É a montanha em que Moshé outrora ouviu a voz do Eterno. Ali, entrou nunca caverna e aguardou, esperando para saber se D’us também gostaria de falar com ele.

De repente, levantou-se um vento violento que rachou as montanhas e quebrou as rochas. Mas o Eterno não estava neste vento.

Após o vento, houve um terremoto, mas o Eterno não esta neste tremor de terra.

Depois do terremoto, um fogo apareceu, mas o Eterno não estava neste fogo.

Mas do fogo veio o murmúrio de uma voz, ainda pequena. Assim que Eliahu a ouviu, cobriu-se o rosto com o manto, e saiu, ficando na porta da caverna.

“O que você faz aqui, Eliahu?” perguntou a voz benevolente.

Ele respondeu: “O povo de Israel se desviou de Ti, O Eterno. Demoliu Teus altares e matou Teus profetas. Sou o único que sobrou e eles estão tentando me tirar a vida.”

“Você não está só, Eliahu”, retornou a voz. “Existem ainda sete mil homens em Israel que não dobraram o joelho diante de Baal. Vai, retorna de onde você veio.”

E D’us explicou a Eliahu o que devia fazer.

Eliahu levantou-se e uma vez mais, tomou a estrada para Israel.

 

A videira de Nabot

 

O rei Achab encontrava-se nos magníficos jardins do seu palácio, entretendo-se com um homem de Israel chamado Nabot. Nabot possuía uma videira, vizinha ao palácio. Ele a cultivava com zelo e cuidado, como seu pai e seu avó o fizeram antes dele. Eeis porém que o rei Achab, que já possuía inúmeras videiras, teve vontade de possuir exatamente o jardim de Nabot. Estava bem próximo do seu palácio e ele queria fazer dele um pomar.

O rei disse então a Nabot: “Me da a tua videira. Eu a pagarei bem ou te darei em troca uma melhor.”

Nesta época não se considerava bom vender uma terra proveniente de uma herança familiar. Um pai guardava suas terras e suas videiras para que seus filhos e netos aproveitassem delas depois dele.

É por isso que Nabot respondeu ao rei: “Que o Eterno me guarde de te ceder a herança dos meus pais.”

Achab voltou para o palácio decepcionado e amuado; deitou-se na cama. Seus servidores lhe trouxeram comida mas ele virou a cabeça e recusou qualquer alimento.

Então sua mulher, Jezabel, veio vê-lo e lhe disse:

“Porque você se perturbou a ponto de recusar a comida?”

“Foi por causa de Nabot”, respondeu Achab. E contou-lhe o ocorrido.

“Acaso não és o rei de Israel?”, vociferou Jezabel com desprezo. “Levanta, come e que teu coração se regozije. Eu mesma te darei a videira de Nabot!”

Mas não era tão fácil assim como Jezabel pensou. Nos outros países, o rei podia fazer o que bem quisesse mas em Israel o rei, como todos os seus súditos, devia obedecer à lei. Jezabel esperou que todo o povo estivesse reunido num dia de jejum. Encontrou dois sem-vergonha que aceitaram se apresentar diante dos juizes testemunhando e jurando: “Nós ouvimos Nabot maldizer o Eterno e o rei.”

Era uma mentira mas ninguém o sabia.

“Nabot deve morrer”, decidiram os juizes. “Dois homens juraram que ele proferiu maldições contra D’us e contra o rei.”

E Nabot, inocente, foi assassinado.

Jezabel correu para Achab para lhe anunciar:

“A videira que Nabot recusou ceder a você é sua agora porque Nabot morreu. Vai tomar posse dela.”

Achab levantou-se e precipitou-se em direção ao jardim.

“Agora posso arrancar todos esses pés de videira e plantar meu jardim,” disse.

Mas ouviu subitamente uma voz atrás dele:

“Você assassinou Nabot, e agora você vai também se apossar da sua videira?”

Achab se deu volta bruscamente, reconhecendo esta voz.

“Quer dizer que você me reencontrou, você, meu inimigo!” disse Achab.

Eliahu respondeu: “D’us me mandou para dizer: “Você fez o mal durante toda a vida. Mas esse mal vai recair sobre você agora, e você vai sofrer como você fez sofrer.”

E o profeta anunciou ao rei todas as desgraças que iam lhe acontecer em breve. Achab entendeu finalmente o quanto sua maldade era grande. Ele correu para fora da videira e se cobriu o corpo com um saco. Jejuou e viveu calmamente para que D’us visse o quanto ele se arrependia de todo o mal que havia feito.

Mas Jezabel, ela não mudou nada.

 

A carruagem de fogo

 

Eliahu viveu o suficiente para ver os profetas do Eterno retornarem a Israel. Quando era um homem bem velho, havia comunidades inteiras nas cidades de Bet El e Jerico. Os jovens que eram seus discípulos se faziam chamar de “Filhos de profetas.”

Eliahu tinha, ele também, um jovem discípulo, que ele considerava como seu filho. Seu nome era Elisha. As pessoas gostavam de relatar o primeiro encontro entre Elisha e o profeta.

O pai de Elisha era agricultor e possuía vastos campos perto do Jordão. Precisava de doze homens e doze pares de bois para arar as suas terras! Um dia que Elisha estava arando com os servidores do seu pai, Eliahu apareceu de repente. Sem dizer uma só palavra, atravessou o campo, jogou seu manto sobre as costas de Elisha e foi embora. Elisha sabia que este gesto era um sinal: D’us o havia escolhido para que ele também fosse profeta. Ele deixou seus bois e correu para Eliahu.

“Me deixa beijar a minha mãe e o meu pai”, falou. “Logo depois te seguirei.”

“Vai”, disse Eliahu.

Elisha se despediu da família e dos amigos. Depois seguiu Eliahu para servi-lo e receber seus ensinamentos. A partir deste momento Elisha não abandonou mais Eliahu.

Eliahu já estava muito, muito velho. Um dia ele disse a Elisha: “Meu filho, fica aqui, por favor, porque o Eterno me manda para Bet El.”

“Tão verdade quanto o Eterno está vivo, e que vives, tu também, eu não te deixarei”, respondeu Elisha.

E foram juntos para Bet El. Os Filhos dos Profetas se aproximaram de Elisha e lhe disseram: “Sabes por acaso que Eterno vai te tirar o teu mestre hoje?”

“Sei sim”, respondeu Elisha, “mas não falem disso.”

Eliahu lhe disse: “Por favor, fica aqui, Elisha, porque o Eterno me ordena ir a Jerico.”

Mas Elisha respondeu ainda: “Tão verdade quanto o Eterno está vivo, e que vives, tu também, eu não te deixarei”.

E foram juntos para Jerico. Ali também os Filhos dos Profetas disseram a Elisha: “Sabes por acaso que Eterno vai te tirar o teu mestre hoje?”

“Sei sim”, respondeu Elisha, “mas não falem disso.”

Uma terceira vez Eliahu lhe disse: “Elisha, fica aqui, por favor, porque o Eterno me ordena ir até o Jordão.”

Mas Elisha recusou outra vez abandonar seu mestre e atravessaram juntos o Jordão.

Eliahu disse então ao seu discípulo: “Pede o que quiseres que eu faça por ti antes que eu seja tirado para longe de ti.”

“Meu Mestre”, respondeu Elisha, “quero somente me parecer a ti. Portanto me da uma dupla parte do teu espírito.”

Eliahu lhe disse: “Tu me pedes uma coisa difícil. Entretanto, se tu me veres quando eu tiver sido levado para longe de ti, este será o sinal que teu desejo será atendido.”

Levantou-se uma tempestade enquanto eles partiam. O vento uivava e os relâmpagos se viam. De repente uma carruagem de fogo e cavalos de fogo desceram entre eles. Sob os olhos de Elisha, Eliahu subiu ao céu num turbilhão.

“Meu pai, meu pai!” exclamou Elisha. Mas ele nunca mais viu seu mestre.

O manto de Eliahu tinha escorregado das suas costas e tinha caído no chão. Elisha o recolheu e atravessou o Jordão de volta.

Quando os Profetas que permaneciam em Jerico o viram chegar, disseram: “O espírito de Eliahu está sobre Elisha.”

Diz-se que Eliahu não morreu.

Ele ainda volta para a terra, para ajudar as pessoas que necessitam.

Ele pode bater na porta um dia qualquer, disfarçado de pobre estrangeiro.

Dedicamos a ele alguns cantos no final de Shabat.

E em Pessach, o convidamos e lhe abrimos a porta.


 


 

Daniel

- Daniel

- O domador de leão

- Sobre Daniel no Zohar


 

Daniel foi levado para o palácio do rei.

 

         Nabucodonosor, rei da Babilônia e vencedor do reino de Judá, estava sentado em seu trono, na sua cidade de Babilônia, e dava ordens ao chefe dos oficiais de sua casa.

         “Eu tenho a intenção de instruir na nossa escola real alguns judeus cativos”, dizia o rei. “Vá escolhê-los para mim. Eles devem pertencer à família real ou nobre, devem ser sãos, bonitos de corpo e de rosto,  e destacáveis por suas boas maneiras e inteligência. Quando eles tiverem passado três anos no Palácio, você me apresentará a eles.”

         O oficial foi rapidamente visitar a colônia judaica e ele pediu que todos os jovens que estivessem lá viessem até ele. Ele conversava com um, depois com outro, depois com um terceiro e um quarto, mas ele sempre voltava a falar com o primeiro.

- “Qual é o seu nome?” Perguntou o oficial.

-  “Daniel”, respondeu o garoto.

- “De onde você vem?”

- “De Juda”.

- “Qual é o nome do seu pai?”

Daniel deu o nome de um dos príncipes de Juda.

- “Hum...” disse o oficial da Babilônia contando nos dedos as qualidades do garoto: “Boa família, bem educado, inteligente, são, habilidoso, e bonito. Ele tem tudo! O rei ficará satisfeito.”

         Daniel foi então o primeiro a ser escolhido. Dentre os outros, havia três jovens de Juda, amigos de Daniel (Michael, Hanania e Azaria).

         Os meninos se olhavam estupefatos enquanto seguiam o oficial do rei. Eles passavam por um corredor, entre duas lindas paredes brilhantes. Essas paredes eram decoradas por leões que pareciam se movimentar; o portal, no final do corredor, era enfeitado com touros alados. Atrás desse portal estava o palácio real; os jovens nunca tinham visto nada tão esplêndido. Eles ficaram cegos com o brilho das paredes douradas. As portas brilhavam com o sol. Mas Daniel não olhava para o palácio. Ele não conseguia parar de olhar para o templo que estava mais adiante. Para ter acesso, tinha que subir cada vez mais, passando de uma plataforma para outra. As escadas em zigue-zague  pareciam subir até o céu. Era o templo idólatro do deus da Babilônia, Bel.

         Daniel se virou para seus  amigos:

“Eu vou aprender a língua da Babilônia e estudar os seus livros”, disse ele. “Eu servirei fielmente seu rei. É certo que ele fez com que deixássemos nossas casas e nosso país, mas agora será bom para a gente. Entretanto, há uma coisa que eu nunca farei: eu nunca deixarei a religião de nossos pais.”

         “Nós também não”, prometeram os três amigos.

Neste mesmo dia eles fizeram prova disso. Os jovens foram levados até seus apartamentos perto do palácio. Logo depois  entraram empregados, cheios de pratos cobertos de carne  com  um  cheiro delicioso: carne assada, gansos e patos recheados. Outros empregados trouxeram confeitarias, todos os tipos de doces, e cântaros de vinho. As taças foram cheias, os pratos continham todas essas coisas boas e os jovens esfomeados comeram com prazer – todos, menos Daniel e seus amigos. Os quatro pratos deles ficaram intactos, e seus copos continuaram cheios.

         O oficial do rei, que s tornou amigo de Daniel,  se virou para eles e disse:

-“Coma, meu filho”, disse ele, “ essa carne e esse vinho vieram da mesa do próprio rei!”

-“Meu senhor”, respondeu Daniel, “a carne não foi preparada segundo nossos ritos. Eu peço que me perdoe, mas eu não posso comer, não é kosher.”

Mas o oficial balançou a cabeça;

- “O rei deixou vocês aos meus cuidados. Se ele perceber que vocês não estão sendo tão bem acolhidos quanto os outros meninos de sua idade, ele me responsabilizará por isso.”

- “Eu peço que você me dê dez dias para eu provar”, suplicou Daniel. “Dai-nos somente legumes e água. Depois, você poderá comparar  nossa aparência com a dos outros meninos que comem a carne do rei. Teus próprios olhos verão, e você agirá em conseqüência.”

         O oficial aceitou. No final dos dez dias, ele percebeu que Daniel e seus amigos tinham uma aparência melhor que a de todos os outros. Ele continuou então servindo somente legumes e água.

         Os jovens passaram três anos na escola real. Eles aprenderam a ler e a escrever a língua da Babilônia. Eles estudaram as estrelas e o sentido dos sonhos. Eles começaram a aprender os segredos dos sábios que estavam escritos em tábuas de argila.

         No final desses três anos, a guarda do palácio os levou até  rei. Nabucodonosor os interrogou, um depois do outro. Nenhum podia ser comparado tanto em sabedoria quanto em conhecimento a Daniel e aos seus três amigos.

         Foi assim que esses quatro jovens foram convidados a ficar no palácio junto com os sábios do rei.

 

 

A pedra que se tornou uma montanha.

 

Numa manhã, Nabucodonosor despertou profundamente perturbado.

         Ele disse para os Sábios: “Eu tive um sonho que certamente não me deixará tranqüilo.”

“Que o rei viva para sempre!” Responderam os sábios. “Conte-nos o seu sonho que nós te explicaremos o sentido.”

         “Bem, eu não me lembro desse sonho. São vocês que devem me lembrar com o que eu sonhei e me dar a explicação.”

“O rei está pedindo uma coisa impossível”, protestaram os sábios. “Ninguém na terra, seja ele padre ou mágico, pode revelar ao homem seu próprio sonho. Nenhum rei, por mais poderoso que seja, nunca exigiu nada parecido.”

Com essas palavras, o rei ficou tão iritado que mandou chamar o capitão da guarda e mandou que matassem todos os sábios de seu reinado.

         O primeiro sábio que o capitão encontrou, ao deixar o rei, foi Daniel.

“Eu tenho que mandar te matar”, disse ele, “ é ordem do rei”.

“Porque você tem tanta pressa?” Replicou Daniel. “Diga-me antes: porque o rei te deu uma ordem tão cruel?”

O capitão contou para ele o que tinha acontecido.

         “Antes de exterminar todos os sábios da Babilônia, disse Daniel, “leve-me até o rei. Pode ser que eu seja capaz de contar para ele seu sonho.”

         O capitão aceitou. Nesta noite, Daniel suplicou para que D´us o ajudasse e, de manhã ele foi levado até o rei.”

         O rei perguntou para ele: Você é capaz de me contar o sonho que eu tive?”

         “Nenhum homem na terra seria capaz”, respondeu Daniel. “Mas tem um D´us no céu que conhece tudo. Na noite passada, ele me contou seu sonho, e me explicou o sentido. Ó rei, este é o sonho que você teve: Você estava deitado sobre sua cama, se perguntando o que aconteceria nos próximos dias. De repente uma estátua apareceu na sua frente. Ela era enorme e extraordinariamente brilhante; a cabeça era de ouro, o peito e os braços eram de prata, a barriga de bronze, as pernas de ferro e os pés tinham uma parte de ferro e  outra de argila. Você estava olhando esta estátua quando, de repente, uma pedra se desprendeu da montanha, mas nenhuma mão tinha feito isso. Ela bateu nos pés de argila da estátua. A argila, o ferro, o bronze e o ouro se partiram em pedaços que o vento levou. Mas a pedra se tornou uma montanha que encheu toda a terra.”

         “Este foi realmente o meu sonho!”  Exclamou o rei. “Agora, explique-o para mim.”

“Ó rei”. Disse Daniel. “Você é a cabeça de ouro. O D´us dos céus te deu a realeza e o poder. Depois de você será erguido um outro reinado, menor que o seu. Depois um terceiro, um quarto e um quinto, cada vez menores. Finalmente, o D´us do céu suscitará um reinado justo que durará para sempre. Este reinado justo, é a pedra que se tornou uma montanha e encheu toda a terra.”

         Então o rei exclamou: “Realmente, vosso D´us é o D´us dos deuses, é Ele quem revela os segredos.” E ele fez com que Daniel fosse o primeiro de todos os sábios da Babilônia.

 

         Alguns anos se passaram. Nabucodonosor mandou fundir uma estátua de ouro colossal que foi erguida no vale de Bavel. Ele enviou emissários aos governadores e oficiais de todas as províncias da Babilônia e mandou que eles assistissem à inauguração.

         Na abertura da cerimônia, um edito do rei decretou:

“A seguinte ordem é dirigida a vocês, nações, povos e idiomas: no momento que vocês ouvirem o som da trombeta e de qualquer tipo de instrumento musical, vocês prosternarão e adorarão a estátua de ouro que o imperador Nabucodonosor ergueu. Qualquer um que se abster de prosternar para adora-la será, na mesma hora jogado na fornalha ardente”.

Todos se prosternaram como o imperador tinha mandado, com exceção de Hanania, Michael e Azaria (Daniel não estava presente). Eles sabiam que seriam pegos e executados mas eles desprezaram a ordem imperial. Como é que eles tiveram coragem de sacrificar sua vida por Hachem?

         Esta é a resposta: tendo se privado de comida não kosher, eles tinham em sua alma um alto nível de Keducha (santidade). Conseqüentemente, eles eram capazes de grandes coisas e desafios.

         A desobediência à ordem do imperador foi logo anunciada; terrivelmente furioso, ele ameaçou: ”Se vocês não se prosternarem imediatamente diante da estátua, eu mandarei jogar vocês vivos na fornalha ardente.”

Eles responderam: “O D´us que nós adoramos pode nos salvar da fornalha ardente e das suas mãos também. Mas fique sabendo que mesmo que Ele não nos libertar, nós não prosternaremos ante a estátua.”

         Muito furioso ao ouvir a recusa, Nabucodonosor mandou que esquentassem a fornalha sete vezes mais do que o necessário. Amarraram os três jovens que foram jogados nas chamas. Um milagre aconteceu e o fogo nem os tocou nem chamuscou suas roupas. Nabucodonosor mandou soltá-los e reconheceu publicamente a grandeza de D´us Todo Poderoso. Ele promoveu os jovens às mais altas funções na corte.

 

 Nabucodonosor recebe uma lição.

 

         Nabucodonosor se tornava cada vez mais poderoso mas também cada vez mais orgulhoso. Ele teve outro sonho estranho, mas, dessa vez, ele se lembrava e contou para Daniel.

         “Eu estava deitado sobre minha cama, disse ele, quando, abrindo os olhos, eu vi uma árvore no meio da terra. A árvore cresceu tanto e se tornou tão vigorosa que tocava os céus. Sua folhagem era bonita e seus frutos abundantes. Todo mundo se alimentava. Os bichos do campo se abrigavam na sua sombra. Os pássaros do céu faziam seus ninhos em seus galhos. Enquanto eu continuava olhando, eu ouvi uma voz que vinha do céu:”

“Abatem a árvore e cortem seus galhos,

Balancem suas folhas e dispersem seus frutos,

Que os bichos deixem sua sombra

E os pássaros os seus galhos,

Todavia, o toco de sua raiz

Ficará na terra

Até que sete anos tenham passado.”

 

“Este foi o meu sonho, queira explicá-lo para mim?”

Daniel se calou, completamente perturbado.

“Não tenha medo de falar”, disse o rei. “Qualquer que seja o sentido desse sonho, eu tenho que saber a verdade.”

 Daniel respondeu então: “Meu rei, a árvore que você viu, que era tão vigorosa e se estendia pela terra, fornecendo sombra e comida para os homens e para os bichos – esta árvore, é você mesmo. Mas, o Eterno Todo Poderoso decretou uma sentença contra você. Você terá que deixar os homens e morar com os bichos nos campos e, como os bois, você comerá capim e você se molhará com o orvalho do céu durante sete anos. Entretanto, a sentença não é completamente ruim. O toco da árvore continua na terra. É sinal de que seu reinado continuará e que ele será devolvido para você quando você souber que existe um D´us no céu, um D´us que domina todos os reis da terra e distribui os reinados segundo Seu desejo.”

E Daniel pediu ao rei: “Seja caridoso com os pobres. Mostre sua bondade e misericórdia. Pode ser que assim a sentença seja afastada.”

Mas o rei não escutou Daniel.

 Doze meses se passaram. Um dia, o rei estava passeando no terraço de seu palácio. A grande cidade da Babilônia se estendia aos seus pés, com suas ruas tão animadas, seus mercados barulhentos, seus canais com seus barcos e pontes, seus palácios tão brilhantes quanto o sol, as torres de seus templos, as sete espessas muralhas que cercavam a cidade, suas cem portas. O orgulho encheu o coração do rei, e ele falou para si mesmo: “Não é esta a grande cidade da Babilônia que eu mandei construir graças ao meu poder todo?”

         De repente, uma voz o chamou do céu: Ó rei Nabucodonosor, a sentença será cumprida. Seu reino será retirado de você.”

         O rei ficou louco. Ele foi retirado de perto dos homens, começou a comer grama como um boi e foi molhado pelo orvalho do céu. Seus cabelos cresceram como as penas de uma águia e suas unhas como as garras dos pássaros.

         Sete anos se passaram assim. A loucura que tinha atacado o rei o deixou, subitamente. Ele foi levado para a cidade e seu reinado foi devolvido para ele.

         Foi assim que o poderoso rei da Babilônia soube que Daniel tinha dito a verdade. Existia um grande D´us que governa todos os reinados dos homens, e foi ele quem deu o reinado ao rei Nabucodonosor.

         A partir de então, o rei nunca mais mostrou seu orgulho, e ele se esforçou para governar seu povo com justiça e bondade.

 

O escrito na parede

 

         Os vasos de ouro e de prata que Nabucodonosor tinha roubado do Templo de Jerusalém estavam depositados no tesouro real. Mas o rei nunca  os utilizava, pois ele temia o Eterno.

         Mas quando o rei Nabucodonosor morreu, foi seu filho Baltasar que lhe sucedeu. Baltasar não sabia, como seu pai, que era somente D´us o responsável por seu poder. Ele era orgulhoso, vaidoso e insolente. Uma noite, ele ofereceu uma grande festa para as pessoas importantes de seu reinado. Ele tinha convidado mil pessoas. Embriagado com todo o vinho que ele tinha bebido, ele mandou que seus empregados trouxessem os vasos sagrados do Santo Templo e ele mesmo e seus príncipes beberam neles. Ao beber, o rei e seus senhores celebravam a glória de seus deuses de ouro, de prata, de madeira e de pedra.

         De repente, uma mão apareceu e começou a escrever na parede. Baltasar percebeu e ficou completamente pálido. Sua taça caiu de suas mãos, e ele tremia tanto que seus joelhos se chocavam.

         “Chamem os sábios e os mágicos!” Ele gritou.

Quando todos chegaram, o rei disse:

         Aquele que conseguir ler este escrito e explicá-lo para mim, será vestido com roupas da realeza. Ele usará um cordão de ouro no pescoço e ocupará o terceiro lugar no governo do reinado.”

         Mas nenhum dos sábios conseguiu decifrar o misterioso escrito.

         O terror do rei aumentava, e os senhores estavam perturbados e perplexos quando a rainha mãe entrou na sala do banquete.

“Ó rei, que você viva para sempre, disse ela, não fique tão consternado. Tem um homem no seu reino, chamado Daniel, que sabe muito sobre D´us. Mande procurá-lo.”

         Foram então buscar Daniel, e o rei Baltasar lhe disse:

Eu ouvi dizer que você é capaz, melhor que todo mundo, de revelar os segredos. Leia este escrito na parede e dê-me a explicação. Se você conseguir, você receberá roupas da realeza, você usará um cordão de ouro, e ocupará o terceiro lugar no governo do reinado.”

         “Guarde teus presentes e dê tuas recompensas para outra pessoa”. Respondeu Daniel. “Entretanto eu lerei este escrito e te darei a interpretação. O escrito vem do Eterno. Você  zombou Dele quando usou, na sua embriaguez, os vasos do Santo Templo. Escute rei, o que disse o eterno:

“Mené” – D´us contou os anos de teu reinado e Ele colocou um fim.

“Tekel” -  Você foi pesado numa balança, e foi considerado muito leve.

“Oufarsin” – Teu reinado será dividido, e será dado aos Medes e aos Persas.

         Nesta mesma noite, Baltasar foi assassinado em seu palácio. Na manhã seguinte, um exército Persa entrou na cidade da Babilônia. O conquistador de Juda tinha sido conquistado

Um rei persa reinava agora na Babilônia. Ele tinha nomeado, para ajudar na sua função, cento e vinte príncipes, dirigidos por três ministros. Daniel era um desses três ministros.

         Os príncipes e os outros ministros tinham inveja de Daniel por causa de sua grande sabedoria e de suas numerosas qualidades. Eles temiam que o rei o nomeasse acima de todos eles. Eles o espionavam sem parar, esperando encontrar um motivo para acusá-lo diante do rei. Mas Daniel era fiel e leal, e eles não conseguiram encontrar um defeito.

         Então os príncipes disseram: “Nós não encontraremos nenhum motivo para acusar Daniel, a não ser no que diz respeito à sua religião.”

         No alto do palácio, Daniel tinha um quarto cujas janelas se abriam na direção de Jerusalém.Três vezes por dia, Daniel rezava para o Eterno na frente da janela. Disso, os príncipes sabiam.

         Eles foram procurar o rei e disseram: “Ó rei, que você viva para sempre! Nós, príncipes e ministros, queremos pedir que todos os teus subordinados provem sua lealdade. Foi por isso que elaboramos uma nova lei que pediremos que você assine.”

         Eles leram então essa lei, escrita num rolo:

“Está proibido, durante trinta dias, rezar para qualquer um, seja D´us ou homem, exceto o rei. Aquele que não obedecer essa lei será jogado na fossa dos  leões”.

Eles estenderam o rolo para o rei que o assinou e aplicou seu selo.

         Daniel ficou sabendo do decreto que acabava de ser redigido. Ele sabia que se rezasse por D´us estaria se expondo a um grande perigo. Mesmo assim, ele continuava rezando, como ele sempre fazia. Era justamente o que tinham imaginado os príncipes.

         Eles foram até o rei para dizer: “Ó rei, Daniel, este cativo trazido de Juda, não respeita você nem as suas leis. Ele continua rezando por D´us, três vezes por dia, apesar de tua interdição formal. Ele deve ser jogado na fossa dos leões.”

         O rei percebeu que os príncipes tinham feito um complô contra Daniel, e ele ficou profundamente atormentado. Durante o dia inteiro ele tentou encontrar um meio para salva-lo.

         No pôr do sol, os príncipes se apresentaram novamente e disseram: “Ó rei, o que você está esperando? Você assinou o decreto, e segundo a lei dos Medes e dos Persas, um decreto assinado pelo rei é irrevogável. O próprio rei não pode mudar nada.”

         Tristemente, o rei deu a ordem para levar Daniel até a fossa dos leões. Ele mesmo foi até a entrada da fossa. Ouvia-se no interior o rugido das feras esfomeadas.

         “Que teu D´us te salve, Ele, a quem você serve com tanta fidelidade”, exclamou o rei enquanto jogavam Daniel na fossa. Colocaram uma grande pedra na entrada, o rei colocou seu selo real e os príncipes fizeram o mesmo.

Durante toda a noite o rei não conseguiu dormir. Logo que o dia nasceu ele foi com muita pressa até a fossa dos leões.

“Daniel! Gritou o rei, o D´us que você serve com tanta fidelidade pôde te salvar dos leões?”

         Sua voz estava cheia de tristeza, pois ele não obteve resposta. Mas depois ele ouviu a voz de Daniel: “Ó rei, que você viva para sempre! Meu D´us enviou seus anjos para fechar a boca dos leões. Eles não fizeram nada pois sou inocente.”

         Muito feliz, o rei mandou buscar os príncipes. Os selos foram rompidos e Daniel foi retirado da fossa. Ele não tinha nenhum ferimento.

         Sob ordem do rei, aqueles que o tinham acusado injustamente foram, por sua vez, jogados na fossa. Mas desta vez, a boca dos leões não ficou fechada.

         Daniel continuou a servir o rei dos Persas, por todo o resto de sua vida, sendo respeitado e honrado por todos.

 

UMA HISTORIA QUE NOS REMETE AO DANIEL, O domador de leão

 

Uma importante reunião aconteceu na casa do líder da comunidade em Jerusalém. Os membros proeminentes da sociedade, os rabinos,  e os líderes da Yeshiva estavam todos reunidos para discutir a situação financeira em Jerusalém. Era um ano de fome:  não tinha chovido, mesmo que  suprimentos de comida fossem muito caros, fundos foram usados para isso, e as pessoas tinham apenas um último pedaço de pão.

         A maioria dos judeus que moravam em Jerusalém ocupados com o estudo da Tora foram sustentados por generosos judeus de outros países que desejavam  participar da grande Mitzva do estudo da Tora. Mas agora, o dinheiro tinha sido gasto e os judeus de Jerusalém sofriam com a pobreza.

         Os líderes judeus finalmente decidiram enviar o santo, Reb Abraão Galanti para a cidade de Istambul a fim de coletar dinheiro dos judeus ricos que moravam lá.

 

 

         O Reb Abraão não estava contente em se empenhar nessa difícil missão que o forçaria a interromper seus estudos da Tora, mas, sabendo o quanto essa ajuda era importante e urgente, ele concordou em fazer a viagem para socorrer os cidadãos de Jerusalém.

         O Reb Abraão Galanti fez sua malas e foi para o porto de Jaffa, onde ele embarcaria num navio para Istambul. Ele pagou sua viagem ao capitão que lhe deu um lugar no navio.

         O navio viajou por muitas semanas antes de chegar no porto de Istambul. Depois de semanas viajando no meio de tempestades no mar, os passageiros ficaram felizes quando viram que o porto estava próximo e eles poderiam finalmente desembarcar.

         O navio chegou ao porto, e o capitão estava preparando para atracar quando ele percebeu algo estranho. Na costa havia um grande tumulto. Pessoas corriam de um alado para outro, urrando de medo, algumas subiam nos telhados das casas, e soldados armados os perseguiam.

         O capitão ficou apavorado – o que está havendo? Alguma coisa terrível deve ter acontecido!  Ele decidiu não atracar o navio, com medo de colocar seus passageiros em perigo, e mandou que os marinheiros conduzissem o navio de volta para o mar.

         Quando o Reb Abraão Galanti percebeu que o capitão não atracaria o navio, ele se dirigiu até ele e disse:

“Capitão! Eu te paguei para que me trouxesse para Istambul e eu gostaria de sair daqui.”

         O capitão levantou sua voz e disse: “Você não está vendo que a cidade está num estado de grande confusão e medo? Os passageiros correm perigo e eu sou o responsável por eles!

         Se você ao quer parar aqui, deixe me sair, eu não tenho medo”, disse o Reb Abraão.

         Os passageiros zombaram dele e o capitão tentou convence-lo de perigo de atracar, mas o Reb Abraão não quis mudar de idéia. O capitão não tinha escolha a  não ser mandar o Reb Abraão para a costa num pequeno barco que voltaria imediatamente para o navio. O navio depois, iria para o mar. Quando o Reb Abraão pisou em terra, muitos soldados se aproximaram dele e disseram:

         Por que você veio para cá? Você não sabe que dois perigosos leões escaparam do zoológico do sultão e a vida de todos está em perigo?  Suba depressa no telhado dessa casa e se esconda!” Ordenaram eles.

            O Reb Abraão, entretanto, não prestou atenção em suas palavras e não fez o que eles mandaram.

         Os soldados não tinham acabado de falar com ele, quando de repente um dos leões veio correndo pela rua. Os soldados correram para salvar suas vidas e subiram no telhado da casa mais próxima, mas o Reb Abraão continuou onde estava, olhando fixamente sem medo do leão.

         As pessoas  que se posicionavam no alto dos telhados começaram a gritar para ele se salvar e se esconder, mas o Reb Abraão, não se mexeu. E depois, quando o leão se aproximou do Reb Abraão, ele deitou no chão e começou  a lamber suas patas como um cachorro obediente. O Reb Abraão segurou firmemente a orelha do leão e começou a andar em direção ao zoológico do sultão.

No caminho ele encontrou o outro leão que estava tentando entrar numa casa fechada. Pegando ele pela orelha, o Reb  Abraão levou os dois leões para o zoológico enquanto todo mundo via  espantado pelas janelas ou de cima dos telhados. Do palácio, o Sultão e seus oficiais observavam a cena do judeu levando os dois leões por suas orelhas como se eles fossem cachorrinhos obedientes. O Sultão apontou para o Reb Abraão a jaula dos leões, e o Reb Abraão teve a certeza que eles entraram e estavam trancados atrás  das grades de ferro.

         Agora, depois que o perigo tinha passado, os habitantes da cidade saíram de seus esconderijos e rodearam o Reb Abraão. Com grande honra, eles o levaram para a corte do Sultão que desejava conhecê-lo, e a cidade inteira ficou muito contente.

         O Sultão recebeu o Reb Abraão com muito respeito. Todos os oficiais se levantaram em sua honra e  ele recebeu uma cadeira de honra para sentar-se ao lado do Sultão.

“Conte-me quem você é e o quê você faz”, disse o Sultão.

         O Reb Abraão disse para o Sultão e para todos que estavam reunidos a sua volta de onde ele veio. Ele descreveu a difícil situação da fome que atingia os  Judeus em Jerusalém, e como ele foi enviado para Istambul para arrecadar dinheiro dos judeus ricos, a fim de sustentar os pobres em Jerusalém.

“Você é certamente um santo e grande homem”, disse o Sultão.

“Não”, disse o Reb Abraão, “eu sou um simples judeu e eu não tenho nada de especial.”

“Como assim?” Disse o Sultão com espanto.

“Então, como você teve a coragem de enfrentar esses perigosos leões que todo mundo temia e conseguiu leva-los até a jaula como se eles fossem nada mais do que inofensivos carneiros? Você é um mágico, ou você é tão poderoso quanto Sansão?”

         “Não, sua majestade”, disse o Reb Abraão. “Eu não tenho poderes, você não vê, eu sou apenas um homem velho e eu não pratico mágica, o que é proibido para um judeu. Entretanto, nossos Sábios dizem: Quem é forte? Aquele que vence sua má inclinação (seus impulsos). Eu tentei durante toda minha vida vencer minha má inclinação e fazer a vontade de D´us. Eu não temo nenhum homem,  somente D´us. Quando D´us criou o mundo, continuou o Reb Abraão, ele fez com que os homens temessem todos os animais. Quando o homem fez a vontade de D´us, os animais o temeram e não fizeram mal a ele, exatamente como nos conta a história de Daniel que ficou são e salvo na fossa dos leões. Mas, quando as pessoas não se comportam como devem, (isto é seguindo Tora e Misvot com amor e temor por D’us), e se deixam levar pela sua má inclinação e pelos seus impulsos, elas perdem a imagem de D´us e então os animais não as temem fazem o mal a elas e tem superioridade sobre o homem.”

         O Sultão ficou muito emocionado com as palavras do Reb Abraão. Ele entendeu que ele estava diante de um grande e santo homem, e imediatamente ordenou que seus tesoureiros dessem ao Reb Abraão uma caixa cheia de ouro e prata para os pobres de Jerusalém. Ele não queria que um homem santo como o Reb Abraão se cansasse indo coletar doações.

         O Reb Abraão saiu com muita honra. O Sultão lamentou ter que se separar de um homem santo e sábio, mas ele sabia que as pessoas em Jerusalém morriam de fome e estavam esperando o Reb Abraão voltar. O Sultão conseguiu um lugar de honra para o Reb Abraão num navio que estava partindo para Israel. O Reb Abraão seguiu seu caminho acompanhado pelo Sultão e por aqueles que o rodeavam, agradecendo-o sem parar por sua heróica ação. O Reb Abraão chegou em casa trazendo socorro financeiro para os cidadãos de Jerusalém.

 

 

 

O QUE DIZ O ZOHAR (NA KABALA) SOBRE O DANIEL

 

         O Zohar revela que os leões não fizeram mal nenhum a Daniel por causa da grande Keducha (elevação espiritual e santidade) que emanava de seu ser. Estas forças espiritual e material eram o resultado de sua recusa em consumir qualquer alimento não-kosher.

         Esta narração de Daniel mostra a grandeza espiritual e a Keducha (santidade e elevação espiritual) que adquire aquele que se abstém de alimentos não kosher. Ao contrário, aquele que consome alimentos proibidos dá forças aos seus maus impulsos e obtura sua alma e sua inteligência. Sua natureza acaba tendo as características similares às dos alimentos impuros que ele come. Ele se torna grosseiro e tem menos aptidão para estudar a Tora, para rezar e fazer as Mitzvot (servir Hachem). A gente é o que a gente come. Uma das razões que explicam a grande clareza de espírito e a profunda inteligência das gerações interiores é a devoção total (Messirut Nefech) que eles demonstravam por não tocar em nenhum alimento proibido pela Tora.

         Echel Abraão, que faz essa advertência em nome de R. Moché Cordovero, conclui: “este é o maior motivo da falta de compreensão dos estudos da Tora de nossa geração.”

         Na verdade, a situação da Cacherut (Leis dos alimentos Kosher) ocasiona muitas confusões, pois uma grande quantidade de produtos trazem um selo “kosher”  e muitos restaurantes, hotéis, pizzarias, açougues e caterins afirmam serem “kosher” ou até mesmo “glatt kosher”. Mas, investigações revelam que eles usam métodos ou ingredientes duvidosos, ou que os alimentos podem ter sido elaborados em locais que serviram também para as gorduras proibidas, etc... A pretensão da cacherut não saberia ser ela própria  uma garantia suficiente se não tivermos a certeza de que o Rav ou o supervisor (machgiah) que certifica o produto é um homem que teme D´us.

         Nossa geração se preocupa com o equilíbrio dos alimentos e sabe quais os alimentos e quais vitaminas são necessários para nossa saúde. Mas, o que nos resta é educar uma geração que se preocupa com a cacherut e saber que introduzir sem discriminação todos os “produtos Kosher” (produtos que pretendem ser “kosher”) em sua casa, ou indo comer em qualquer lugar que se diz “kosher”, pode causar um prejuízo irreparável à sua alma.


 


 


 

Templo de Jerusalém


 

O Beit Hamicdash (Templo Sagrado)

 

         O Midrash relata que a “Even Hashessiya” - uma enorme rocha situada no centro do lugar do Templo, é a própria pedra angular do universo, a fundação sobre a qual o mundo está construído.

 

         O lugar onde o Rei Salomão construiu o altar do Beit Hamicdash foi o mesmo lugar em que Avraham construiu um altar e atou o seu filho Isaac, onde Noach construiu um altar quando deixou a arca, onde Caim e Abel trouxeram suas oferendas, e onde Adão trouxe seu sacrifício depois de ter sido criado. Ali também ocorreu a criação de Adam.

 

         Os engenheiros modernos não conseguem explicar como as enormes pedras do Templo - algumas pesando até 400 toneladas - foram extraídas, transportadas e carregadas até o lugar. Nossos sábios dizem que os anjos de ofício assistiram na construção, e que as pedras conduziram-se para cima.

 

         No Codesh Hacodashim (lugar mais santo) do Templo, sobre a Arca do Pacto, estavam os querubins alados, duas figuras angelicais de ouro. Diz-se que quando o povo judeu vivia em harmonia e obedecia à vontade do Todo-Poderoso, os querubins olhavam um para o outro e quando os judeus não obedeciam, seus rostos ficavam virados.

 

         Dentro da Arca estavam as Tábuas originais nas quais estão inscritos os Dez Mandamentos. O Santo dos Santos, no qual estava colocada a Arca, tinha 20 cúbitos de largura. Mas quando a distância era medida entre a Arca e os muros que a circundavam, havia 10 cúbitos de cada lado. A Arca era um objeto físico e apesar disso não ocupava espaço físico - porque se situava entre os mundos material e espiritual.

 

         Os sacrifícios trazidos para o altar do Templo eram consumidos por um fogo divino que descia do céu com a forma de um leão, e apesar disso a lenha queimava continuamente no altar.

 

         Entre os milagres associados com o templo estava o fato que, apesar de que centenas de milhares de peregrinos visitavam Jerusalém nas Festas, não faltava nunca lugar para ficar.

 

         A Menorá - o candelabro de sete braços do Templo - era moldado com muitas decorações intricadas e desenhos, a partir de um único bloco de ouro. Moisés teve dificuldade para entender e explicar como seria feito. O Todo-Poderoso lhe disse então para atirar o lingote de ouro no fogo - e a Menorá emergiu por si mesma, totalmente formada.

 

         Quando os sacerdotes, os “Cohanim”, viram o Beit Hamicdash em chamas na época da destruição, subiram para o telhado com as chaves do Templo, gritando: “Senhor do Universo! Não temos sido guardas leais. Faça com que estas chaves voltem ao proprietário legítimo!” Eles atiraram a chave para cima e uma mão se estendeu desde o céu recuperando as chaves.

 

         Embora o Templo está destruído, um muro permaneceu intacto através dos séculos - o Muro Ocidental. Todos os judeus através do mundo rezam três vezes ao dia em direção ao local do Templo, o portão através do qual todas nossas preces são ouvidas e respondidas. Como nossos sábios nos dizem, “A Presença Divina nunca se afasta do Muro Ocidental”.



 

Templo de Jerusalém II

Templo Sagrado de Jerusalém

(Beit HaMikdash)

 

Primeiro e Segundo Templo de Jerusalém. O Rei Salomão começou a construir o primeiro Beth Hamikdash em 2928, que foi concluído sete anos depois. O Rei David comprou o lugar do Arvenah o Jebusite, e desde então, este local se tornou para sempre sagrado (Kadosh*), o lugar da Presença Divina e de peregrinação três vezes no ano. O Primeiro Templo durou 410 anos e foi destruído no dia 9 do mês de  Av  de 3338 por Nabucodonosor da Babilônia.

Em 3408, os judeus exilados que voltaram da Babilônia construíram o Segundo Templo que foi destruído em 3828 pelo Imperador Romano Titus.

 

O templo permitiu o  cumprimento do Preceito Divino: “Eles farão para Mim um Santuário e Eu residirei entre eles”. Esse Santuário Divino construído no meio da matéria do mundo é a finalidade da criação e isto destaca a centralidade do Templo. Muito mais, o exílio não tem outro objetivo a não ser o de elevar a matéria do mundo e, quando esta elevação for realizada, o Terceiro Templo será reconstruído, com ainda mais esplendor que os precedentes.

        A definição do Templo é dada pelo Rambam*. Ele é “uma casa pronta onde serão oferecidos sacrifícios”. Os sacrifícios ilustram na verdade o que deve ser esse Santuário, construído com todos os reinos* da criação, minerais (sais), vegetais (óleo, farinha), animais (bois, bodes) e humanos (Cohen, Levi, Israel). É por este motivo que o Templo iluminava o mundo, sendo, segundo a expressão dos Sábios, “uma casa da qual emanava a claridade para o mundo inteiro”.

        Seu serviço sagrado foi interrompido quando os Gregos introduziram a impureza. Na verdade, o Templo e a impureza são compatíveis. No mundo futuro, em compensação, ele será reconstruído quando se realizar a promessa “Eu (D’us)  tirarei o espírito de impureza da terra”. Uma controvérsia opõe os Sábios para saber se o terceiro Templo será construído pelos homens, como a Lei (Halacha) obriga, ou por D’us, como se diz, “um Santuário eterno, que Tuas mãos construíram”. A Chassidu*t explica que as duas opiniões são verdadeiras. O Templo descerá já construído do céu, mas os homens fixarão as portas.

        O Rabi* introduziu a prática de estudar as Leis do Templo durante as três semanas que separam o dia 17 Tamuz do dia 9 Av , mas particularmente durante os nove primeiros dias de Av. Na verdade, o estudo dessas Leis permite que seja considerado como se estivéssemos construindo o Templo e esse período deve, na hora da libertação (guéula), ser transformado em alegria e felicidade. Tal estudo é o meio de prefigurar a realização desta promessa.

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